"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

CATEQUESE PREPARATÓRIA PARA O VII ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS - CATEQUESE 8 - A FESTA, TEMPO PARA A FAMÍLIA

  

A FAMÍLIA: O TRABALHO E A FESTA

Catequeses preparatórias
para o VII Encontro Mundial das Famílias

(Milão, 30 de Maio – 3 de Junho de 2012)

8. A FESTA, TEMPO PARA A FAMÍLIA

A. Canto e saudação inicial

B. Invocação do Espírito Santo

C. Leitura da Palavra de Deus

1Assim foram completados os céus, a terra e todos os seus exércitos.
2Tendo Deus terminado no sétimo dia a obra que tinha feito,
descansou do seu trabalho. 3Ele abençoou o sétimo dia e consagrou-
o, porque nesse dia repousara de toda a obra da Criação.
4Esta é a história da criação dos céus e da terra (Gn 2, 1-4a).
8Recorda-te do dia de sábado, para o santificares. 9Trabalharás
durante seis dias e realizarás toda a tua obra; 10mas no sétimo dia,
que é o sábado em honra do Senhor, teu Deus, não realizarás
qualquer trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o
teu escravo, nem a tua escrava, nem os teus animas e nem sequer
o estrangeiro que estiver hospedado na tua casa. 11Porque em seis
dias o Senhor criou o céu, a terra, o mar e tudo quanto eles contêm,
e descansou no sétimo dia; por isso, o Senhor abençoou o dia
de sábado, e consagrou-o (Êx 20, 8-11).

D. Catequese bíblica

1.     O sétimo dia da criação. O homem moderno criou o tempo livre e perdeu o sentido da festa. É necessário recuperar o sentido da festa, e de modo particular do domingo, como «um tempo para o homem», aliás, «um tempo para a família». Voltar a encontrar o fulcro da festa é decisivo também para humanizar o trabalho, para lhe atribuir um significado que não o reduza a ser uma resposta às necessidades, mas que o abra ao relacionamento e à partilha: com a comunidade, com o próximo e com Deus.
O sétimo dia é, para os cristãos, o «dia do Senhor», porque celebra o Ressuscitado presente e vivo no seio da comunidade cristã, na família e na vida pessoal. É a Páscoa semanal. O domingo não interrompe a continuidade com o sábado judaico mas, ao contrário, completa-o. Por isso, para compreender a singularidade do domingo cristão é necessário referir-se ao sentido do mandamento do sábado. Para santificar a festa, em conformidade com o mandamento, o povo de Deus deve dedicar um tempo reservado a Deus e ao homem. No Antigo Testamento existe um forte vínculo entre o sétimo dia da criação e a lei de santificar o sábado. O mandamento do sábado, que reserva um tempo para Deus, conserva em si também a sua intenção de criar um tempo para o homem.
Depois da obra realizada nos seis dias, o descanso é o cumprimento da obra criadora de Deus. No primeiro dia Deus estabelece a medida do tempo, com a alternância de noite e dia; no quarto dia Deus cria os luzeiros, o sol e a lua, para que «sirvam de sinais para marcar o tempo, os dias e os anos» (Gn 1, 14); e no sétimo dia Deus «termina a obra que tinha feito». Início, centro e fim da semana da criação são caracterizadas pelo tempo, que tem a sua finalidade no dia de Deus. O sétimo dia é o momento do descanso e comunica a bênção a toda a criação. Não apenas interrompe a actividade humana, mas confere a fecundidade ligada ao descanso de Deus. Assim, o culto e a festa dão sentido ao tempo humano.
Através do culto, o tempo põe o homem em comunhão com Deus, e Deus entra na história do homem. O sétimo dia conserva o tempo do homem, o seu espaço de gratuidade e de relação.
Hoje, a festa como «tempo livre» é vivida no contexto do «fim-de-semana», que tende a dilatar-se cada vez mais e adquire características de dispersão e de evasão. O tempo do week-end, particularmente agitado, sufoca o espaço do domingo. Em vez do descanso, privilegia-se a diversão, a fuga das cidades, e isto influi sobre a família, principalmente se tem filhos adolescentes e jovens. Ela tem dificuldade de encontrar um momento doméstico de serenidade e de proximidade. O domingo perde a sua dimensão familiar: é vivido mais como um tempo «individual» do que como um espaço «comum». O tempo livre torna-se com frequência um dia «móvel» e corre o risco de não ser mais um dia «fixo», adaptando-se ao contrário às exigências do trabalho e da sua organização.
O homem não descansa somente para voltar ao trabalho, mas para fazer festa. É mais oportuno do que nunca que as famílias voltem a descobrir a festa como lugar do encontro com Deus e da proximidade recíproca, criando a atmosfera familiar sobretudo quando os filhos são pequenos. O clima vivido nos primeiros anos da casa natal permanece inscrito para sempre na memória do homem. Também os gestos da fé, no dia do domingo e nas festividades anuais, devem assinalar a vida da família, dentro de casa e na sua participação na vida da comunidade. «Não foi tanto Israel que conservou o sábado – afirmou-se – mas é o sábado que conservou Israel». Assim, também o domingo cristão conserva a família e a comunidade que a celebra, porque abre ao encontro com o mistério santo de Deus e renova os relacionamentos familiares.
2.     O mandamento de santificar o sábado. O terceiro mandamento do decálogo recorda a libertação do Egipto, o dom da liberdade, que constitui Israel como povo. Trata-se de um «sinal perene» da aliança entre Deus e o homem, em que participa toda a existência, até mesmo a vida animal. Nela participa também a terra (que tem o seu descanso no sétimo ano) e toda a criação (o jubileu, o sábado dos anos) (cf. Lv 25, 1-7 e 8-55). Por conseguinte, o sábado do decálogo possui um significado social e libertador. O mandamento não é motivado apenas mediante a obra criadora, mas também com a obra redentora: «Recorda-te de que foste escravo no país do Egipto, de onde o Senhor, teu Deus, te fez sair… O Senhor, teu Deus, ordenou-te que guardasses o dia de sábado» (Dt 5, 15). Obra da criação e memorial da libertação caminham de mãos dadas. «Guardar o dia de sábado» significa realizar um «êxodo» para a liberdade do homem, passando da «escravidão» ao «serviço». Durante seis dias o homem servirá com esforço, mas no sétimo dia cessará o trabalho servil, a fim de poder servir na gratidão e no louvor.
Portanto, o sábado tira do serviço/escravidão, para introduzir no serviço/liberdade.
Na Liturgia existe uma prece maravilhosa (Oração sobre as oferendas, do 20º Domingo), que nos pode ajudar a reencontrar a festa como cumprimento do trabalho do homem: «Recebei os nossos dons,ó Senhor, neste misterioso encontro entre a nossa pobreza e a vossa grandeza: nós oferecemos-vos aquilo que Vós nos concedestes e Vós, em contrapartida, oferecei-nos a Vós mesmo». Este texto invoca o prodigioso encontro entre a nossa pobreza e a grandeza de Deus. Este intercâmbio realiza-se no encontro entre o trabalho e a festa, entre a dimensão «produtiva» e a dimensão «gratuita» da vida. Em casa e na comunidade cristã, a família experimenta a alegria de transformar a vida de todos os dias numa liturgia viva. Na oração em casa, o casal prepara e irradia a celebração litúrgica festiva. Se os filhos virem os pais rezarem antes deles e com eles, aprenderão a orar na comunidade eclesial.
3.     A oração sobre as oferendas, acima recordada, termina com estas expressões: «E Vós, em contrapartida, ofereceis-nos a Vós mesmo». Esta invocação pede a Deus não apenas a saúde, a tranquilidade e a paz familiar, mas nada menos do que Ele mesmo. O sentido da fatiga de todos os dias é de transformar o nosso trabalho em oferta agradável, em reconhecimento do dom que nos foi oferecido: a vida, o cônjuge, os filhos, a saúde, o trabalho, as quedas e as retomadas da existência. A liberdade cristã consiste na libertação do homem do trabalho e no trabalho, a fim de ser livre para Deus e para o próximo. O homem e a mulher, mas sobretudo a família, devem inscrever no seu estilo de vida o sentido da festa, de maneira a viver não só como sujeitos em necessidade, mas como comunidade do encontro.
O encontro com Deus e com o outro é o âmago da festa. A mesa dominical, em casa e com a comunidade, é diferente daquela de todos os dias: a de cada dia serve para sobreviver, mas a do domingo serve para viver a alegria do encontro. A mesa festiva é tempo para Deus, espaço para a escuta e a comunhão, disponibilidade para o culto e a caridade. A celebração e o serviço são as suas formas fundamentais da lei, com as quais se honra a Deus e se recebe a sua dádiva de amor: no culto, Deus comunica-nos gratuitamente a sua caridade; no serviço, o dom recebido torna-se amor compartilhado e vivido com os outros. O dies Domini deve tornarse inclusive um dies hominis! Se a família se aproximar deste modo da festa, poderá vivê-la como o dia «do Senhor».

E. Escuta do Magistério

A família que sabe suspender o fluxo contínuo do tempo, fazendo uma pausa para recordar com gratidão os benefícios recebidos do seu Senhor, exercita-se em entrar no descanso de Deus. A família chamada a descansar no Senhor sabe reorientar a dispersão dos dias para o dia de acção de graças. Sabe transformar a expectativa dos dias na única espera do Dia do Senhor. Volta, como o leproso curado, para dar graças ao seu Senhor pela salvação de todos. Com a insistência da sua intercessão, abrevia o tempo da espera do oitavo dia, para o qual o Esposo promete à esposa: «Sim, eu venho depressa! Amém. Vinde, Senhor Jesus!» (Ap 22, 20).
Recorda-te do dia de sábado
«O mandamento do Decálogo, pelo qual Deus impõe a observância do sábado tem, no livro do Êxodo, uma formulação característica: "Recorda-te do dia de sábado, para o santificares" (20, 8). E mais adiante, o texto inspirado dá a razão disso mesmo, apelando-se à obra de Deus: "Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto eles contêm, e descansou no sétimo dia; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e consagrou-o" (v. 11). Antes de impor qualquer coisa a ser praticada, o mandamento indica algo a recordar. Convida a avivar a memória daquela grande e fundamental obra de Deus que é a criação. É uma memória que deve animar toda a vida religiosa do homem, para depois confluir no dia em que ele é chamado a repousar. O repouso assume, assim, um típico valor sagrado: o fiel é convidado a repousar não só como Deus repousou, mas a repousar no Senhor, devolvendo- lhe toda a criação, no louvor, na acção de graças, na intimidade filial e na amizade esponsal.
O tema da "lembrança" das maravilhas realizadas por Deus, posto em relação com o repouso sabático, aparece também no texto do Deuteronómio (cf. 5, 12-15), onde o fundamento do preceito é visto não tanto na obra da criação como sobretudo na libertação efectuada por Deus no êxodo: "Recorda-te de que foste escravo no país do Egipto, de onde o Senhor, teu Deus, te fez sair com mão forte e braço poderoso. É por isso que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado" (Dt 5, 15).
Esta formulação é complementar da precedente: consideradas juntas, elas revelam o sentido do "dia do Senhor" no âmbito de uma perspectiva unitária de teologia da criação e da salvação. O conteúdo do preceito não é, pois, primariamente uma interrupção qualquer do trabalho, mas a celebração das maravilhas realizadas por Deus.
Na medida em que esta "lembrança", repleta de gratidão e louvor a Deus, estiver viva, o repouso do homem, no dia do Senhor, assume o seu pleno significado. Por ele, o homem entra na dimensão do "repouso" de Deus para dele participar em profundidade, tornando-se assim capaz de experimentar aquele regozijo de alegria que o próprio Criador sentiu depois da criação, vendo que toda a sua obra "era muito boa" (Gn 1, 31)».
[Dies Domini, 16-17]

F. Perguntas para o casal e o grupo

PARA O CASAL
  1. Como vivemos o estilo do domingo na nossa família?
  2. O nosso domingo é um dia de «descanso no Senhor»?
  3. Para a Bíblia, a festa é um tempo de liberdade interior, de escuta recíproca e de proximidade familiar: como é a atmosfera doméstica no dia de domingo?
  4. O encontro com Deus e com o próximo é o âmago da festa: o nosso domingo põe verdadeiramente no centro a celebração de Deus e o tempo para os outros?
PARA O GRUPO FAMILIAR E A COMUNIDADE
  1. Quais são, na sociedade actual, os estilos de vida da festa e do tempo livre?
  2. Que experiências propõem as comunidades cristãs, para viver o domingo como um tempo para Deus e para os outros?
  3. A paróquia e as agregações eclesiais ajudam a «guardar o domingo»: que iniciativas podem ser tomadas?
  4. De que modo a celebração dominical pode tornar-se a «sarça ardente», que ajuda a reencontrar o sentido de Deus?

G. Um compromisso para a vida familiar e social

H. Orações espontâneas. Pai-Nosso

I. Canto final

FONTE: http://www.family2012.com/pt/catequeses.php

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