"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

CATEQUESE PREPARATÓRIA PARA O VII ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS - CATEQUESE 6 - O TRABALHO, RECURSO PARA A FAMÍLIA

 

A FAMÍLIA: O TRABALHO E A FESTA

Catequeses preparatórias
para o VII Encontro Mundial das Famílias

(Milão, 30 de Maio – 3 de Junho de 2012)

6. O TRABALHO, RECURSO PARA A FAMÍLIA

A. Canto e saudação inicial

B. Invocação do Espírito Santo

C. Leitura da Palavra de Deus

10Uma mulher virtuosa, quem poderá encontrá-la?
Muito superior ao das pérolas é o seu valor.
11Confia nela o coração do seu marido,
e jamais lhe faltará coisa alguma.
12Ela proporciona-lhe o bem, nunca o mal,
por todos os dias da sua vida.
13Ela procura lã e linho
e trabalha com mão alegre.
14Semelhante ao navio do mercador,
manda vir os seus víveres de longe.
15Levanta-se, quando ainda é noite,
distribui a comida à sua casa
e a tarefa às suas servas.
16Ela encontra uma terra, e adquire-a.
Planta uma vinha com o fruto das suas mãos.
17Cinge os seus rins de fortaleza,
e revigora seus braços.
18Alegra-se com o seu lucro,
e a sua lâmpada não se apaga durante a noite.
19Põe a mão na roca,
e os seus dedos manejam o fuso.
20Estende os braços ao infeliz
e abre a mão ao indigente.
21Ela não teme a neve na sua casa,
porque toda a sua família tem vestes duplas.
22Faz cobertas para si mesma:
as suas vestes são de linho fino e de púrpura.
23O seu marido é considerado às portas da cidade,
quando se senta com os anciãos do lugar.
24Tece túnicas e vende-as,
e fornece cintos ao mercador.
25Fortaleza e graça servem-lhe de ornamentos;
e tem confiança no dia de amanhã.
26Abre a boca com sabedoria,
e a sua língua profere amáveis instruções.
27Vigia o andamento da sua casa,
e não come o pão da ociosidade.
28Os seus filhos levantam-se para a proclamar bem-aventurada
e o seu marido para a elogiar:
29«Muitas mulheres demonstram vigor,
mas tu a todas excedes!».
30A graça é fala e a beleza é vã;
mas a mulher inteligente deve ser louvada.
31Reconhecei o fruto das suas mãos
e que as suas obras a louvem às portas da cidade.
(Pr 31, 10-31).

D. Catequese bíblica

1.      Uma mulher forte, quem poderá encontrá-la? No retrato do livro dos Provérbios, a actividade da mulher adquire um valor de importância primária na economia doméstica e familiar. A mulher, figura da sabedoria humana e ao mesmo tempo divina, exprime através do seu trabalho a genialidade criativa de toda a humanidade.
Com efeito, as qualidades atribuídas à mulher podem ser válidas para todas as pessoas chamadas ao sentido de responsabilidade pela família e pelo trabalho.
O quadro delineado é o da mulher ideal, que vive relações positivas no interior da famílias. Confiando na habilidade organizativa e na actividade de trabalho da esposa, em Israel o marido podia dedicar-se à profissão de juiz, ofício que competia aos homens sábios, geralmente aos anciãos que, com o passar do tempo, tinham adquirido a sabedoria.
Esta divisão dos deveres domésticos e profissionais esclarece a importância do comum acordo entre marido e esposa na programação do trabalho de ambos: a cada um é pedido que se comprometa a fim de que o outro possa melhor expressar os próprios talentos. Por sua vez, a sociedade deve oferecer à família todo o apoio possível, para que os cônjuges se tornem capazes de fazer livre e responsavelmente as suas escolhas de trabalho. Também os filhos, juntamente com o marido, elogiam a mãe, exaltando os seus dotes. Nas suas características certamente idealizadas, este pequeno quadro familiar é oferecido como um modelo do qual haurir inspiração e estímulo.
A família exemplar vive no temor de Deus e nele deposita a sua confiança. A prosperidade de que goza, reconhecida como um dom divino, é conservada e valorizada na laboriosidade quotidiana.
A mulher sente a responsabilidade que lhe foi confiada e empenha-se sem se poupar para corresponder à tarefa que lhe foi pedida. Mediante a sua atitude, ela convida todas as pessoas a serem responsáveis pelas próprias obras, mas também a cuidarem dos demais membros da família e a preocuparem-se pela vida social, contribuindo para o bem comum. Os dons e os dotes pessoais são, ao mesmo tempo, uma responsabilidade em relação a Deus e ao próximo. O pensamento corre à parábola dos talentos, dados a cada um a fim de que sejam multiplicados (cf. Mt 25, 14-30).
2.      Levanta-se quando ainda é noite. O levantar da mulher durante a noite e o seu trabalho nocturno descrevem um zelo que elimina qualquer forma de indolência. A laboriosidade da mulher, distante de toda a negligência, é ulteriormente sublinhada ao longo deste texto, observando que ela «vigia o andamento da sua casa, e não come o pão da ociosidade». Cada pessoa é chamada a velar constantemente para não ceder à tentação da indolência, renunciando às suas próprias responsabilidades e descuidando os seus compromissos.
O retrato da mulher ideal, alheia a qualquer forma de ociosidade, é o ícone de quem não teme o cansaço nem os sacrifícios, porque sabe que o consumo das suas energias não é vão, mas tem um sentido. Com efeito, com o seu trabalho provê às necessidades da sua família e é também capaz de socorrer o pobre e o indigente.
Este exemplo, sempre actual, interpela a vida familiar. Entre as responsabilidades da família encontra-se também a de se abrir às necessidades dos outros, próximos ou distantes que sejam. A atenção aos pobres é uma das mais bonitas formas de amor ao próximo, que uma família possa viver. Saber que mediante o próprio trabalho se ajuda aqueles que não dispõem do que lhes é necessário para viver, fortalece o compromisso e sustém no cansaço.
Por outro lado, oferecer aquilo que se possui a quantos nada têm, compartilhar com os pobres as próprias riquezas significa reconhecer que tudo o que recebemos é graça, e que na origem da nossa prosperidade existe contudo um dom de Deus, que não pode ser conservado para nós mesmos, mas há-de ser dividido com os outros. Através desta atitude promove-se a justiça social e contribui-se para o bem comum, contestando a propriedade egoísta da riqueza e contrastando a indiferença pelo bem comum.
3.      Abre a boca com sabedoria. Uma qualidade característica da família ideal é o abster-se das bisbilhotices. De que se fala em família? Qual é o teor das conversas? O fascínio da mulher descrita no livro dos Provérbios é alimentado inclusive pelo facto de que ela «abre a boca com sabedoria e a sua língua profere amáveis instruções». A tarefa dos pais consiste em ensinar os filhos a praticar o bem e a evitar o mal e, ulteriormente, a valorizar o mandamento do amor a Deus e ao próximo. A coerência de vida dos pais fortalece e torna verdadeiro o seu ensinamento, ainda mais quando ele se refere ao bem a praticar o ao amor a viver. O modelo daqueles que vivem o que ensinam permanece perenemente válido e, sobretudo nos dias de hoje, conserva toda a sua inigualável eficácia.
A comunicação hodierna parece muitas vezes deformada: pronunciam-se palavras e lançam-se mensagens com a superficialidade de quem não assume qualquer responsabilidade pelas consequências daquilo que afirma. A pessoa responsável procura a verdade dos acontecimentos e fala daquilo de que está persuadida.
A sabedoria bíblica convida a fugir da mentira e a evitar os discursos vãos. Ouvindo a Palavra de Deus, a família cristã tem a grande responsabilidade de testemunhá-la fielmente, evitando que seja sufocada por muitas palavras inúteis.
Numa sociedade onde a comunicação deformada e falaz está na origem de muitos sofrimentos e incompreensões, a família pode tornar-se o contexto propício para a educação na sinceridade e na verdade.
Admitir os próprios erros, pedindo perdão e assumindo coerentemente as responsabilidades pessoais, é um estilo de vida nada espontâneo, no qual é necessário educar os filhos desde a idade mais tenra.
Falando com sabedoria, a mulher ideal «só profere amáveis instruções» a dar. A sabedoria da palavra consiste em dar voz ao bem, evitando aqueles discursos de pura crítica que corrompem o diálogo familiar. Com esta finalidade, é preciso deixar que a escuta da Palavra de Deus, iluminando e enriquecendo a qualidade da comunicação, torne a vida familiar mais evangélica.
4.      Tem confiança no dia de amanhã. A vida familiar, e da mulher no seio da família, não é tão fácil e ao alcance, como aparece no retrato ideal descrito pelo livro dos Provérbios. Por exemplo, quando a mulher é obrigada a um duplo trabalho, dentro e fora de casa. Torna-se, por exemplo, de importância decisiva, quer sob o perfil prático quer afectivo, que os cônjuges compartilhem os deveres educativos e colaborem nos afazeres domésticos. Hoje em dia é mais preciosa do que nunca para muitas famílias a presença dos avós, cuja contribuição para a vida familiar, contudo, corre o risco de ser demasiado pouco reconhecida e excessivamente explorada.
O fascínio da mulher que tem confiança no dia de amanhã, evocando deste modo a esperança para o futuro, é de grande actualidade.
Apesar das dificuldades quotidianas, muitas famílias representam um autêntico sinal de esperança para a nossa sociedade. A virtude da esperança tem origem na entrega confiante à Providência divina.
Em relação a cada esposa e mãe, a gratidão é mais do que obrigatória: «Reconhecei – observa o livro dos Provérbios – o fruto das suas mãos». Os afazeres domésticos de cuidado da casa, de educação dos filhos, de assistência aos idosos e aos enfermos possui um valor social muito mais elevado que muitas profissões no mundo do trabalho, que de resto são bem retribuídas. A contribuição insubstituível da mulher para a formação da família e para o desenvolvimento da sociedade ainda espera o devido reconhecimento e a adequada valorização.
A família é o contexto para a formação em numerosas virtudes, é também escola de reconhecimento pelo compromisso assumido com gratuidade e amor pelos pais. Aprender a dizer «obrigado» não é automático, e não obstante é totalmente indispensável.
«Dom e responsabilidade» constituem o binómio no contexto do qual se insere o trabalho da família e de cada um no seu seio. Todos são chamados a reconhecer os dons recebidos de Deus, a pôr os que lhe são próprios à disposição dos outros e a valorizar os dons dos outros. Cada um é responsável pela vida dos outros: com o trabalho, cada um provê ao bem de todos em família e pode também contribuir para quem está em necessidade. Vivendo deste modo, os afectos e os vínculos familiares dilatam-se a ponto de reconhecer em cada homem e em cada mulher um irmão e uma irmã, todos filhos do mesmo Pai.

E. Escuta do Magistério

O trabalho é um recurso para a família no dúplice sentido de constituir uma fonte de sustento e de desenvolvimento da família e, ao mesmo tempo, um lugar em que se exerce a solidariedade entre as famílias e entre as gerações. O ensinamento da Igreja sugere que se tenha em correlação o trabalho com a família. De resto, que modelo de desenvolvimento poderíamos imaginar sem a família, que recolhe os seus frutos e que através das suas próprias escolhas generativas orienta os seus ulteriores desenvolvimentos? A Laborem exercens propõe a correlação do trabalho com a família e recorda-nos que «a família é uma comunidade tornada possível pelo trabalho e, ao mesmo tempo, a primeira escola interna de trabalho para todos e cada um dos homens».
Trabalho e família
«O trabalho constitui o fundamento sobre o qual se edifica a vida familiar, que é um direito fundamental e uma vocação do homem. Estas duas esferas de valores – uma conjunta ao trabalho e a outra derivante do carácter familiar da vida humana – devem unir-se entre si e compenetrar-se de um modo correcto. O trabalho, de alguma maneira, é a condição que torna possível a fundação de uma família, uma vez que a família exige os meios de subsistência que o homem obtém normalmente mediante o trabalho. Assim, trabalho e laboriosidade condicionam também o processar-se da educação na família, precisamente pela razão de que cada um "se torna homem" mediante o trabalho, entre outras coisas, e que o facto de se tornar homem exprime exactamente a finalidade principal de todo o processo educativo. Como é evidente, entram aqui em jogo, num certo sentido, dois aspectos do trabalho: o que faz dele algo que permite a vida e o sustento da família, e aquele outro mediante o qual se realizam as finalidades da mesma família, especialmente a educação.
Não obstante a distinção, estes dois aspectos do trabalho estão ligados entre si e completam-se em vários pontos. Deve-se recordar e afirmar que, numa visão global, a família constitui um dos mais importantes termos de referência, segundo os quais tem de ser formada a ordem sócio-ética do trabalho humano. A doutrina da Igreja dedicou sempre especial atenção a este problema e será necessário voltar ainda a ele no presente documento. Com efeito, a família é uma comunidade tornada possível pelo trabalho e, ao mesmo tempo, a primeira escola interna de trabalho para todos e cada um dos homens».
[Laborem Exercens, 10]

F. Perguntas para o casal e o grupo

PARA O CASAL
  1. Damos graças ao Senhor pelo trabalho que nos permite manter a nossa família?
  2. Que relação se interpõe entre o facto de sermos trabalhadores e a nossa vocação de cônjuges e pais?
  3. Os afazeres domésticos e o cuidado dos filhos são compartilhados por ambos?
PARA O GRUPO FAMILIAR E A COMUNIDADE
  1. No mundo do trabalho subsistem discriminações injustas entre homens e mulheres, entre mulheres solteiras e casadas?
  2. Que papel educativo podem desempenhar a família, a escola e a paróquia, na formação dos jovens para o valor da laboriosidade e da responsabilidade social?
  3. Como recuperar hoje em dia a solidariedade no mundo do trabalho? Que ajuda pode oferecer a Igreja?

G. Um compromisso para a vida familiar e social

H. Orações espontâneas. Pai-Nosso

I. Canto final

FONTE: http://www.family2012.com/pt/catequeses.php

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