"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

domingo, 13 de maio de 2012

CATEQUESE PREPARATÓRIA PARA O VII ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS - CATEQUESE 5 - O TRABALHO E A FESTA NA FAMÍLIA

A FAMÍLIA: O TRABALHO E A FESTA

Catequeses preparatórias
para o VII Encontro Mundial das Famílias

(Milão, 30 de Maio – 3 de Junho de 2012)

5. O TRABALHO E A FESTA NA FAMÍLIA

A. Canto e saudação inicial

B. Invocação do Espírito Santo

C. Leitura da Palavra de Deus

26Então, Deus disse: «Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.
Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos
céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre
todos os répteis que se arrastam sobre a terra».
27E Deus criou o homem à sua imagem;
criou-o à imagem de Deus:
criou-os varão e mulher.
28Deus abençoou-os e disse-lhes:
«Frutificai e multiplicai-vos,
enchei a terra e submetei-a.
Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus
e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra».
29Deus disse: «Eis que eu vos dou toda a erva que produz semente
sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas
a sua semente, para que vos sirvam de alimento. 30E a todos os animais
da terra, a todas as aves dos céus, a todos os seres que se
arrastam sobre a terra, e em que haja o sopro da vida, eu dou toda a
erva verde como alimento». E assim se fez. 31Deus contemplou toda
a sua obra, e viu que tudo era muito bom. Sobreveio a tarde e depois
a manhã: foi o sexto dia.
1Assim foram completados os céus, a terra e todos os seus exércitos.
2Tendo Deus terminado no sétimo dia a obra que tinha
feito, descansou do seu trabalho. 3Ele abençoou o sétimo dia e
consagrou-o, porque nesse dia repousara de toda a obra da
Criação. 4Esta é a história da criação dos céus e da terra
(Gn 1, 26-31; 2, 1-4a).

D. Catequese bíblica

1.        Deus disse: façamos o homem. A narração bíblica das origens apresenta a criação do homem, varão e mulher, como obra de Deus, fruto do seu trabalho. Deus cria o homem, trabalhando como o oleiro que plasma o barro (cf. Gn 2, 7). E também quando der vida ao seu povo Israel, libertando-o da escravidão do Egipto e conduzindo-o rumo à terra prometida, a obra de Deus assemelhar- se-á ao trabalho do pastor, que age conduzindo o seu rebanho rumo à pastagem (cf. Sl 77, 21).
A obra criadora de Deus é acompanhada da sua palavra, aliás, realiza-se mediante a sua palavra: «Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança"… E Deus criou o homem à sua imagem…». Aquilo que Deus leva a cabo não é sobretudo «usado»,mas contemplado. Ele contempla aquilo que tinha feito, até captar o seu esplendor, e alegra-se diante da beleza do bem que Ele criou.
Aos seus olhos, o trabalho parece uma obra-prima. Quem ainda sabe admirar-se diante das maravilhas do mundo, revive de alguma maneira o júbilo de Deus. Ainda hoje, para quem sabe olhar com simplicidade e fé, a beleza do universo convida a reconhecer a mão de Deus e a compreender que não se trata de um produto do acaso, mas a obra amorosa do Criador para a criatura humana que, não apenas é «boa» como todas as outras, mas é «muito boa».
A palavra que acompanha a criação de Deus não pode falar também ao homem que trabalha: jamais deveria acontecer que o trabalho sufoque o homem, a ponto de o reduzir ao silêncio! Desprovido do direito de palavra, o trabalhador precipita na condição de escravo, a quem é impedido alegrar-se pelo seu trabalho, porque todo o fruto lhe é arrebatado pelo patrão.
Para poder viver, o homem deve trabalhar, mas as condições de trabalho devem salvaguardar e, aliás, promover a sua dignidade de pessoa.
Hoje, o mercado do trabalho obriga não poucas pessoas, principalmente se são jovens e mulheres, a situações de incerteza constante, impedindo-os de trabalhar com a estabilidade e as seguranças de ordens económica e social, as únicas que podem garantir às jovens gerações a formação de uma família, e às famílias, a geração e a educação dos seus filhos.
A oportuna «flexibilidade» do trabalho, exigida pela chamada «globalização», não justifica a permanente «precariedade» de quem tem na sua única «força-trabalho» o recurso para assegurar para si mesmo e para a sua família o necessário para viver. Previdências sociais e mecanismos de tutela adequados devem integrar a economia do trabalho, a fim de que sobretudo as famílias que vivem os momentos mais delicados, como a maternidade, ou mais difíceis, como a enfermidade e o desemprego, possam contar com uma razoável segurança económica.
2.        Deus disse-lhes… enchei a terra e submetei-a. A criação «muito boa» não deve ser apenas contemplada pelo homem, mas é também um apelo à colaboração. Com efeito, o trabalho é para cada homem uma chamada a participar na obra de Deus e, por isso, um verdadeiro lugar de santificação. Transformando a realidade, ele reconhece que o mundo vem de Deus, que o empenha a completar a obra boa por ele encetada. Isto significa, por exemplo, que o grave desemprego, fruto da actual crise económica mundial, não apenas priva as famílias dos meios de sustento necessários mas, negando ou reduzindo a experiência de trabalho, impede que o homem se desenvolva plenamente.
O trabalho não deve submeter o homem, mas o homem, através do trabalho, é chamado a «submeter» a terra (cf. Gn 1, 28). Todo o globo terrestre está à disposição do homem, a fim de que ele, mediante a sua engenhosidade e o seu compromisso, descubra os recursos necessários para viver e faça deles o devido uso. Para esta finalidade, hoje muito mais que no passado, não podemos esquecer que a terra nos foi confiada por Deus como um jardim a apreciar e a cultivar (cf. Gn 2, 7).
O uso responsável dos recursos da terra, em ordem a um desenvolvimento sustentável, tornou-se hoje uma questão de primeiro plano, a «questão ecológica». A degradação ambiental de muitas regiões do planeta, o aumento dos níveis de poluição e outros factores negativos, como o sobreaquecimento da terra soam como campainhas de alarme em relação a uma condução do progresso tecnocientífico que descuida os efeitos colaterais das suas empresas. Estudar políticas industriais, agrícolas e urbanísticas que ponham no centro o homem e a salvaguarda da criação é a condição imprescindível para garantir às famílias, já hoje e de maneira especial no futuro, um mundo habitável e hospitaleiro.
Depois de ter trabalhado durante seis dias na criação do mundo e do homem, no sétimo dia Deus descansa. O descanso de Deus recorda ao homem a necessidade de suspender o trabalho, para que a vida religiosa pessoal, familiar e comunitária não seja sacrificada aos ídolos do acúmulo da riqueza, do progresso da carreira e do incremento do poder. O homem não vive só de relações de trabalho, em função da economia. É necessário tempo para cultivar as relações gratuitas dos afectos familiares e dos vínculos de amizade e de parentesco.
Infelizmente, no Ocidente a cultura predominante tende a considerar o indivíduo sozinho mais funcional à sociedade da produção e do consumo: mais produtivo, porque mais disponível à mobilidade e à flexibilidade dos horários, sob o ponto de vista da percentagem ele consome mais do que as pessoas que vivem em família.
3.      Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26) o homem, como Deus, trabalha e descansa. O tempo tranquilo do descanso e jubiloso da festa é também o espaço para dar graças a Deus, criador e salvador.
Suspendendo o trabalho, os homens recordam a experimentam que na origem da sua actividade de trabalho está a obra criativa de Deus. A criatividade humana mergulha as suas raízes no Deus criador: só Ele cria a partir do nada.
Descansando em Deus, os homens encontram também a justa medida do seu trabalho, comparativamente com a sua relação com o próximo. A actividade de trabalho está ao serviço dos vínculos mais profundos que Deus quis para a criatura humana. O pão que se ganha trabalhando não é só para si mesmo, mas doa sustento também aos outros com os quais se vive. Através do trabalho, os cônjuges nutrem a sua relação e a vida dos seus filhos.
Além disso, o trabalho é inclusive o gesto de justiça com que as pessoas participam no bem da sociedade e contribuem para o bem comum. Tempo de gratuidade para as relações interpessoais e sociais, o descanso do trabalho é uma ocasião propícia para alimentar os afectos familiares, assim como para estreitar laços de amizade com outras famílias. Com efeito, os ritmos de trabalho contemporâneos, estabelecidos pela economia consumista, limitam até quase anular, especialmente no caso de certas profissões, os espaços da vida comum, sobretudo em família. As actuais condições de vida parecem desmentir aquilo que se imaginava até há pouco tempo. Esperava-se que o progresso tecnológico aumentasse o tempo livre. Os ritmos de trabalho frenéticos, as viagens para ir ao trabalho e voltar para casa, reduzem drasticamente o espaço de confronto e partilha entre os cônjuges e a possibilidade de estar com os filhos. Entre os desafios mais árduos dos países economicamente desenvolvidos há o de equilibrar os tempos da família com os tempos do trabalho. No entanto, a tarefa difícil dos países em fase de desenvolvimento consiste em aumentar a produtividade, sem perder a riqueza das relações humanas, familiares e comunitárias, resolvendo e conciliando a relação família-trabalho, tanto no contexto das migrações externas como internas no mesmo país.
4.      Deus abençoou-os…Da narração da criação sobressai uma estreita ligação entre o amor conjugal e a actividade de trabalho: com efeito, a bênção de Deus diz respeito à fecundidade do casal eà sujeição da terra. Esta dúplice bênção convida a reconhecer a bondade da vida familiar e da vida de trabalho. Por isso, encoraja a encontrar uma forma de viver a família e o trabalho de modo equilibrado e harmonioso. Hoje não faltam tentativas que vão neste rumo, como por exemplo, onde é possível e oportuno, o horário parcial de trabalho, ou as autorizações e as licenças compatíveis com os deveres de trabalho, mas correspondentes às necessidades da família. Também a flexibilidade dos horários pode favorecer o justo equilíbrio entre as exigências familiares, ligadas sobretudo ao cuidado dos filhos, e as exigências do trabalho.
A bênção é dada aos cônjuges a fim de que sejam fecundos e beneficiem da fecundidade da terra. Abençoada por Deus, a famíliaé chamada a reconhecer os dons que recebe de Deus. Um modo concreto para recordar a obra benéfica de Deus, origem de todo o bem, é a oração de bênção que a família recita à hora das refeições.
Reunir-se para louvar a Deus e para lhe dar graças pelo alimento é um gesto tanto simples quanto profundo: é a expressão da gratidão do Pai dos céus que provê aos seus filhos na terra, concedendolhes a graça de se amarem e o pão para viverem.

E. Escuta do Magistério

Não apenas o trabalho mas o próprio descanso festivo constitui um direito fundamental e, ao mesmo tempo, um bem indispensável para os indivíduos e as suas famílias: é quanto se afirma na exortação pós-sinodal Sacramentum caritatis. O homem e a mulher valem mais do que o seu trabalho: eles são feitos para a comunhão e para o encontro. Por conseguinte, o domingo configura-se não já como um intervalo ao cansaço, a preencher com actividades frenéticas ou experiências extravagantes, mas sim como o dia do descanso que abre ao encontro, leva a redescobrir o outro e permite dedicar tempo às relações em família e com os amigos e à oração.
O sentido do descanso e do trabalho
«É particularmente urgente no nosso tempo lembrar que o dia do Senhor é também o dia de repouso do trabalho. Desejamos vivamente que isto mesmo seja reconhecido também pela sociedade civil, de modo que se possa ficar livre das obrigações laborais sem ser penalizado por isso.
De facto, os cristãos – não sem relação com o significado do sábado na tradição hebraica – viram no dia do Senhor também o dia de repouso da fadiga quotidiana. Isto possui um significado bem preciso, ou seja, constitui uma relativização do trabalho, que tem por finalidade o homem: o trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho. É fácil intuir a tutela que isto oferece ao próprio homem, ficando assim emancipado duma possível forma de escravidão.
Como já tive ocasião de afirmar, "o trabalho reveste uma importância primária para a realização do homem e o progresso da sociedade; por isso torna-se necessário que aquele seja sempre organizado e realizado no pleno respeito da dignidade humana e ao serviço do bem comum.
Ao mesmo tempo, é indispensável que o homem não se deixe escravizar pelo trabalho, que não o idolatre pretendendo achar nele o sentido último e definitivo da vida» (Homilia na solenidade de São José, 19 de Março de 2006). É no dia consagrado a Deus que o homem compreende o sentido da sua existência e também do trabalho (cf. Compêndioda Doutrina Social da Igreja, n. 258)».
[Sacramentum Caritatis, 74]

F. Perguntas para o casal e o grupo

PARA O CASAL
  1. Sentimos-nos realizados na nossa actividade de trabalho?
  2. Confrontamos-nos a propósito das nossas experiências de trabalho?
  3. O exercício da profissão entra em conflito com os nossos vínculos conjugais e familiares?
  4. Temos o hábito de rezar à hora das refeições? Que significado atribuímos à bênção do alimento?
PARA O GRUPO FAMILIAR E A COMUNIDADE
  1. Nas nossas comunidades cristãs presta-se atenção aos problemas do trabalho e da economia?
  2. Na Caritas in veritate, Bento XVI fala de condições para um «trabalho decente» (CV, 63): de que modo podemos comprometer- nos para garantir a todos os homens um trabalho digno?
  3. A flexibilidade no campo do trabalho constitui uma oportunidade ou um prejuízo?
  4. Que formas de idolatria do trabalho estão presentes na sociedade em que vivemos?

G. Um compromisso para a vida familiar e social

H. Orações espontâneas. Pai-Nosso

I. Canto final

FONTE: http://www.family2012.com/pt/catequeses.php

Nenhum comentário:

Postar um comentário