"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

CATEQUESE PREPARATÓRIA PARA O VII ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS - CATEQUESE 2 - A FAMÍLIA GERA A VIDA

A FAMÍLIA: O TRABALHO E A FESTA

Catequeses preparatórias
para o VII Encontro Mundial das Famílias

(Milão, 30 de Maio – 3 de Junho de 2012)

2. A FAMÍLIA GERA A VIDA

A. Canto e saudação inicial

B. Invocação do Espírito Santo

C. Leitura da Palavra de Deus

27Deus criou o homem à sua imagem;
criou-o à imagem de Deus:
criou-os varão e mulher (Gn 1, 27).
18E o Senhor Deus disse: «Não é bom que o homem esteja só: vou
dar-lhe uma ajuda, que lhe seja adequada». 19Tendo, pois, o
Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos e
todas as aves dos céus, levou-os ao homem para ver como ele
lhes havia de chamar: e cada nome que o homem deu aos animais
vivos, tal devia ser o seu verdadeiro nome. 20Assim, o homem deu
um nome a todos os animais, a todas as aves dos céus e a todos
os animais dos campos; mas não se encontrava para o homem
uma ajuda que lhe fosse adequada. 21Então, o Senhor Deus mandou
descer sobre o homem um profundo sono; e enquanto ele
dormia, tirou-lhe uma costela e fechou com a carne o seu lugar.
22E da costela que tinha tirado do homem, o Senhor Deus criou
uma mulher, e levou-a para junto do homem.
23Então, o homem disse:
«Eis agora aqui,
o osso dos meus ossos,
e a carne da minha carne;
ela chamar-se-á mulher,
porque foi tirada do homem».
24Por isso, o homem deixará o seu pai e a sua mãe para se unir à
sua mulher; e os dois serão uma só carne (Gn 2, 18-24).

D. Catequese bíblica

1.      Criou-os varão e mulher. Por que motivo Deus criou o homem e a mulher? Por que quis que no casal humano, mais do que em qualquer outra criatura, resplandecesse a sua imagem? O homem e a mulher que se amam, com todo o seu ser, são o berço que Deus escolheu para ali depositar o seu amor, a fim de que cada filho e cada filha que nascem no mundo possa conhecê-lo, recebê-lo e vivê-lo, de geração em geração, prestando louvor ao Criador.
Nas primeiras páginas da Bíblia explica-se o bem que Deus pensou para as suas criaturas. Deus criou o homem e a mulher iguais em dignidade, e no entanto diferentes: um é homem, e o outro é mulher. A semelhança unida à diferença sexual permite aos dois entrar em diálogo criativo, estabelecendo uma aliança de vida. Na Bíblia, a aliança com o Senhor é aquilo que dá vida ao povo, em relação ao mundo e à história da humanidade inteira. Aquilo que a Bíblia ensina a propósito da humanidade e de Deus encontra a sua raiz na vicissitude do Êxodo, em que Israel experimenta a proximidade benévola do Senhor e se torna seu povo, dando o seu consenso àquela aliança, a única da qual deriva a vida.
A história da aliança do Senhor com o seu povo ilumina a narração da criação do homem e da mulher. Eles são criados para uma aliança que não diz respeito unicamente a eles mesmos, mas envolve o Criador:
«Criou-os à imagem e semelhança de Deus: criou-os varão e mulher».
A família nasce do casal pensado, na sua própria diferença sexuada, à imagem do Deus da aliança. Nela, a linguagem do corpo tem um grande relevo, narra algo acerca do próprio Deus. A aliança que um homem e uma mulher, na sua diferença e complementaridade, são chamados a viver é à imagem e semelhança do Deus aliado do seu povo. O corpo feminino está predisposto a desejar e a receber o corpo masculino, e vice-versa, mas ainda antes a mesma coisa é válida para a «mente» e para o «coração». O encontro com uma pessoa do outro sexo suscita sempre curiosidade, apreço, desejo de se fazer notar, de dar o melhor de si, de demonstrar o próprio valor, de cuidar, de proteger...; trata-se de um encontro sempre dinâmico, cheio de energia positiva, porque no relacionamento com o outro/outra descobrimos e desenvolvemos-nos a nós mesmos. A identidade masculina e feminina é salientada especialmente quando entre ele e ela surge a maravilha pelo encontro e o desejo de estabelecer um vínculo.
Na narração de Gn 2, Adão descobre-se homem precisamente no momento em que reconhece a mulher: o encontro com a mulher faz-lhe entender e mencionar o seu ser homem. O reconhecimento recíproco do homem e da mulher derrota o mal da solidão e revela a bondade da aliança conjugal. Contrariamente àquilo que afirma a ideologia do «gender», a diferença dos dois sexos é muito importante.
É o pressuposto para que cada um possa desenvolver a sua própria humanidade na relação e na interacção com o outro. Quando os dois cônjuges se entregam totalmente um ao outro, juntos doam-se também aos filhos que poderiam nascer. Tal dinâmica do dom é depauperada, cada vez que se recorre a uma utilização egoísta da sexualidade, excluindo toda a abertura à vida.
2.       Não é bom que o homem esteja só. Para cumular a solidão de Adão, Deus cria para ele «uma ajuda que lhe seja adequada». Na Bíblia, o termo «ajuda» tem sobretudo Deus como sujeito, a ponto de se tornar um título divino («O Senhor está comigo, é a minha ajuda» Sl 117, 7); além disso, com «ajuda» não se entende uma intervenção genérica, mas o socorro oferecido diante de um perigo mortal. Criando a mulher como ajuda que lhe seja adequada, Deus subtrai o homem à má solidão que mortifica, inserindo-o na aliança que dá a vida: a aliança conjugal, em que o homem e a mulher se concedem reciprocamente a vida; a aliança genitorial, em que pai e mãe transmitem a vida aos filhos.
A mulher e o homem são, um para o outro, uma «ajuda» que «está à sua frente», sustém, compartilha e comunica, excluindo qualquer forma de inferioridade ou de superioridade. A igual dignidade entre o homem e a mulher não admite qualquer hierarquia e, ao mesmo tempo, não exclui a diferença. A diferença permite ao homem e à mulher estreitar-se em aliança, e a aliança fortalece-os. É quanto ensina o livro de Ben Sirac: «Aquele que possui uma mulher virtuosa, sabe como se tornar rico; há uma ajuda que lhe é semelhante, uma coluna de apoio. Onde não existe uma cerca, os bens ficam expostos ao roubo; onde não há uma mulher, o homem suspira de necessidade» (Eclo 36, 26-27).
O homem e a mulher que se amam no desejo e na ternura dos corpos, assim como na profundidade do diálogo, tornam-se aliados que se reconhecem um graças ou outro, mantendo a palavra dada, são fiéis ao pacto, sustentam-se mutuamente para realizar aquela semelhança com Deus à qual, como varão e mulher, são chamados desde a fundação do mundo. Ao longo do caminho da vida aprofundam a linguagem do corpo e da palavra, porque de ambos há tanta necessidade quanto do ar e da água. O homem e a mulher devem evitar as insídias do silêncio, da distância e da incompreensão. Não raro, os ritmos de trabalho, quando se tornam extenuantes, subtraem tempo e energias ao cuidado da relação entre os esposos: então, há necessidade do tempo da festa, que celebra a aliança e a vida.
A criação da mulher tem lugar enquanto o homem dorme profundamente. O sono que Deus faz descer sobre ele exprime o seu abandonar-se a um mistério, que lhe é impossível compreender.
A origem da mulher permanece envolvida no mistério de Deus, como misteriosa permanece para cada casal a origem do seu próprio amor, o motivo do seu encontro e da atracção recíproca que os levou à comunhão de vida. No entanto, uma coisa parece certa: na relação conjugal, Deus inscreveu a «lógica» do seu amor, para a qual o bem da própria vida consiste em doar-se um ao outro.
O amor conjugal, feito de atracção, companhia, diálogo, amizade, atenção… mergulha as suas raízes no amor de Deus, que desde a origem pensou o homem e a mulher como criaturas que se amassem com o seu próprio amor, não obstante a ameaça do pecado possa tornar o seu relacionamento cansativo e ambíguo. Infelizmente, o pecado substitui a lógica do amor, do dom de si mesmo com a lógica do poder, do domínio e da própria afirmação egoísta.
3.        Os dois serão uma só carne. Criada da costela do homem, a mulher é «carne da sua carne e osso dos seus ossos». Por este motivo, a mulher participa da debilidade – a carne – do homem, mas também da sua estrutura basilar – o osso. Um comentário do Talmude observa que «Deus não criou a mulher a partir da cabeça do homem, para que o dominasse; não a criou dos pés, a fim de que fosse submissa ao homem; mas criou-a da costela, para que permanecesse próxima do seu coração». A estas palavras fazem eco as palavras da «amada», do Cântico dos Cânticos: «Põe-me como um selo sobre o teu coração...» (8, 6). Elas manifestam a união profunda e intensa à qual aspira e à qual está destinado o amor conjugal.
«Eis agora aqui, o osso dos meus ossos, a carne da minha carne»: o homem pronuncia estas suas primeiras palavras diante da mulher. Até àquele momento ele tinha «trabalhado», dando um nome aos animais, mas permanecendo ainda sozinho, incapaz de pronunciar palavras de comunhão. No entanto, quando vê diante de si a mulher, o homem profere palavras de admiração, reconhecendo nela a grandeza de Deus e a beleza dos afectos.
Deus confia a sua criação à comunhão rica de enlevo, gratidão e solidariedade de um homem e de uma mulher. Aliando-se no amor, ao longo do tempo eles tornar-se-ao «uma só carne».
A expressão «uma só carne» faz certamente alusão ao filho, mas ainda mais evoca a comunhão interpessoal que envolve de maneira total o homem e a mulher, a ponto de constituírem uma nova realidade. Assim unidos, o homem e a mulher poderão e deverão dispor-se à transmissão da vida, ao acolhimento, gerando filhos mas também abrindo-se às formas de acolhimento e de adopção. Com efeito, a intimidade conjugal é o lugar originário predisposto e desejado por Deus, onde a vida humana não apenas é gerada e nasce, mas também é acolhida e aprende toda a constelação dos afectos e dos vínculos pessoais.
No casal existe admiração, acolhimento, dedicação, alívio à infelicidade e à solidão, aliança e gratidão pelas obras maravilhosas de Deus. E deste modo ela torna-se terreno fértil onde a vida humana é semeada, germina e vem à luz. Lugar de vida, lugar de Deus: acolhendo tanto um como o Outro, o casal humano realiza o seu destino ao serviço da criação e, tornando-se cada vez mais semelhante ao seu Criador, percorre o caminho rumo à santidade.

E. Escuta do Magistério

Na vida de família, os relacionamentos interpessoais encontram o fundamento e recebem o alimento do mistério do amor. O matrimónio cristão, aquele vínculo pelo qual o homem e a mulher prometem amar-se no Senhor para sempre e com todo o seu ser, constitui a nascente que alimenta e vivifica as relações entre todos os membros da família. Não é por acaso que, nas seguintes citações tiradas da Familiaris consortio e da Evangelium vitae, para explicar o segredo da vida doméstica, aprecem repetidas vezes os termos «comunhão» e «dom».
O amor, nascente e alma da vida familiar
«A comunhão conjugal constitui o fundamento sobre o qual se continua a edificar a mais ampla comunhão da família: dos pais e dos filhos, dos irmãos e das irmãs entre si, dos parentes e de outros familiares.
Tal comunhão radica-se nos laços naturais da carne e do sangue, e desenvolve-se encontrando o seu aperfeiçoamento propriamente humano na instauração e maturação dos laços ainda mais profundos e ricos do espírito: o amor, que anima as relações interpessoais dos diversos membros da família, constitui a força interior que plasma e vivifica a comunhão e a comunidade familiar.
A família cristã é, portanto, chamada a fazer a experiência de uma comunhão nova e original, que confirma e aperfeiçoa a comunhão natural e humana. Na realidade, a graça de Jesus Cristo, "o Primogénito entre muitos irmãos" (Rm 8, 29), é por sua natureza e dinamismo interior uma "graça de fraternidade", como lhe chama S. Tomás de Aquino (Summa Theologiae IIª-IIIIae, 14, 2 ad 4). O Espírito Santo, que se infunde na celebração dos sacramentos, é a raiz viva e o alimento inexaurível da comunhão sobrenatural que estreita e vincula os crentes com Cristo, na unidade da Igreja de Deus. Uma revelação e actuação específica da comunhão eclesial é constituída pela família cristã que também, por isto, se pode e deve chamar "Igreja doméstica" (LG, 11; cf. também AA, 11).
Todos os membros da família, cada um segundo o dom que lhe é peculiar, possuem a graça e a responsabilidade de construir, dia após dia, a comunhão de pessoas, fazendo da família uma "escola de humanismo mais completo e mais rico" (GS, 52): é o que vemos surgir com o cuidado e o amor para com os mais pequenos, os doentes e os anciãos; com o serviço recíproco de todos os dias; com a co-participação nos bens, nas alegrias e nos sofrimentos».
[Familiaris Consortio, 21]
«A família tem a ver com os seus membros durante toda a existência de cada um, desde o nascimento até à morte. Ela é verdadeiramente "o santuário da vida (...), o lugar onde a vida, dom de Deus, pode ser convenientemente acolhida e protegida contra os múltiplos ataques a que está exposta, e pode desenvolver-se segundo as exigências de um crescimento humano autêntico" (Centesimus annus, 39). Por isso, o papel da família é determinante e insubstituível na construção da cultura da vida.
Como igreja doméstica, a família é chamada a anunciar, celebrar e servir o Evangelho da vida. Esta tríplice função compete primariamente aos cônjuges, chamados a serem transmissores da vida, apoiados numa consciência sempre renovada do sentido da geração, enquanto acontecimento onde, de modo privilegiado, se manifesta que a vida humana é um dom recebido a fim de, por sua vez, ser dado. Na geração de uma nova vida, eles tomam consciência de que o filho "se é fruto da recíproca doação de amor dos pais é, por sua vez, um dom para ambos: um dom que promana do dom" (Discurso aos participantes no VII Simpósio de bispos europeus, 17 de Outubro de 1989).
A família cumpre a sua missão de anunciar o Evangelho da vida, principalmente através da educação dos filhos. Pela palavra e pelo exemplo, no relacionamento mútuo e nas opções quotidianas, e mediante gestos e sinais concretos, os pais iniciam os seus filhos na liberdade autêntica, que se realiza no dom sincero de si, e cultivam neles o respeito do outro, o sentido da justiça, o acolhimento cordial, o diálogo, o serviço generoso, a solidariedade e os demais valores que ajudam a viver a existência como um dom. A obra educadora dos pais cristãos deve constituir um serviço à fé dos filhos e prestar uma ajuda para eles cumprirem a vocação recebida de Deus. Faz parte da missão educadora dos pais ensinar e testemunhar aos filhos o verdadeiro sentido do sofrimento e da morte: pode-lo-ao fazer, se souberem estar atentos a todo o sofrimento existente ao seu redor e, antes ainda, se souberem desenvolver atitudes de solidariedade, assistência e partilha com doentes e idosos no âmbito familiar».
[Evangelium Vitae, 92]

F. Perguntas para o casal e o grupo

PARA O CASAL
  1. Como vivemos o desejo e a ternura na nossa relação?
  2. Quais são os obstáculos que impedem o nosso caminho de profunda aliança?
  3. O nosso amor conjugal está aberto aos filhos, à sociedade e à Igreja?
  4. Que pequena decisão podemos tomar, para melhorar o nosso entendimento?
PARA O GRUPO FAMILIAR E A COMUNIDADE
  1. Como promover na nossa comunidade o valor do amor esponsal?
  2. Como favorecer a comunicação e a ajuda recíproca entre as famílias?
  3. Como ajudar aqueles que estão em dificuldade na vida conjugal e familiar?

G. Um compromisso para a vida familiar e social

H. Orações espontâneas. Pai-Nosso

I. Canto final 

FONTE: http://www.family2012.com/pt/catequeses.php

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