"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

"Em colóquio com Cristo sobre os fundamentos da família" (Papa João Paulo II)




"A expressão «desde o princípio» foi empregada pelo Senhor Jesus no diálogo sobre o matrimônio referido pelo Evangelho de São Mateus e pelo de São Marcos. Queremos perguntar-nos que significa esta palavra «princípio» exactamente nesta circunstância e, portanto, propomo-nos análise mais precisa do referido texto da Sagrada Escritura.

Durante a conversa com os fariseus, que o interrogavam sobre a indissolubilidade do matrimônio, duas vezes se referiu Jesus Cristo ao «princípio». O diálogo decorreu da maneira seguinte:

"Alguns fariseus, para O experimentarem, aproximaram-se d'Ele e disseram-lhe: «É permitido a um homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?». Ele respondeu: «Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e disse: Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, e unir-se-á a sua mulher, e serão os dois uma só carne? Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Pois bem, o que Deus uniu, não o separe o homem». «Por que foi então, perguntaram eles, que Moisés preceituou dar-lhe carta de divórcio ao repudiá-la?». «Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim» (Mt. 19, 3 ss.; cfr. também Mc. 10, 2, ss.)."


Cristo não aceita a discussão ao nível que os seus interlocutores procuram dar-lhe, em certo sentido não aprova a dimensão que eles se esforçam por conferir ao problema. Evita embrenhar-se nas controvérsias jurídico-casuísticas; e, em vez disso, apela duas vezes para o «princípio». Procedendo assim, faz clara referência às palavras sobre a matéria no Livro do Génesis, que também os seus interlocutores sabem de cor. Dessas palavras da revelação antiquíssima, tira Cristo a conclusão, e o diálogo termina.

«Princípio» significa portanto aquilo de que fala o Livro do Génesis. É portanto o Génesis 1, 27 que cita Cristo, em forma resumida: O Criador desde o princípio fê-los homem e mulher; mas o trecho originário completo soa textualmente assim: Deus criou o homem à Sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. Em seguida, o Mestre refere-se ao Génesis 2, 24: Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne.

Citando estas palavras quase «in extenso», por inteiro, Cristo dá-lhes ainda mais explícito significado normativo (dado que era admissível a hipótese de no Livro do Génesis figurarem como afirmações unicamente de factos: «Deixará ... unir-se-á ... serão uma só carne»). O significado normativo determina-se uma vez que não se limita Cristo somente à citação em si, mas acrescenta: «Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Pois bem, o que Deus uniu, não o separe o homem». Este «não o separe» é determinante. A luz desta palavra de Cristo, o Génesis 2, 24 enuncia o princípio da unidade e indissolubilidade do matrimónio como sendo o próprio conteúdo da palavra de Deus, expressa na mais antiga revelação.

Poder-se-ia, nesta altura, defender que o problema está terminado, que as palavras de Jesus Cristo confirmam a lei eterna, formulada e instituída por Deus «desde o princípio», desde a criação do homem. Poderia também parecer que o Mestre, ao confirmar esta lei primordial do Criador, não faz senão estabelecer exclusivamente o próprio sentido normativo dela, apelando para a autoridade mesma do primeiro Legislador. Todavia, aquela expressão significativa «desde o princípio», repetida por Cristo, leva claramente os interlocutores a reflectirem sobre o modo como no mistério da criação foi moldado o homem, precisamente como «homem e mulher», para se compreender correctamente o sentido normativo das palavras do Génesis." (AUDIÊNCIA GERAL do venerável Servo de Deus João Paulo II no dia 5 de Setembro de 1979).

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