"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

domingo, 28 de março de 2010

Aniversário de Santa Teresa de Jesus

Sendo hoje o aniversário do nascimento de Santa Teresa de Jesus, comemorado no dia 28 de março, partilhamos estes trechos do "Livro da Vida", onde ela relata aspectos importantes de sua família e de sua infância:
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"Ter pais virtuosos e tementes a Deus – se eu não fosse tão ruim – me bastaria, com o que o Senhor me favorecia, para ser boa.

Era meu pai homem de muita caridade para com os pobres e de compaixão para com os enfermos. Com os criados tinha tanta, que jamais se pôde conseguir que tivesse escravos, porque deles tinha grande dó. Estando uma vez em sua casa, uma escrava de um irmão seu, meu pai a tratava como a seus filhos. Ninguém jamais o viu jurar ou murmurar; era extraordinariamente honesto.

Minha mãe também tinha grandes virtudes e passou a vida com grandes enfermidades. Grandíssima honestidade. Com ser de muita formosura, jamais deu ocasião a que se entendesse que dela fazia caso porque, apesar de morrer aos trinta e três anos, seu traje já era como o de pessoa de muita idade. Muito pacífica e de grande entendimento. Foram
grandes os trabalhos pelos quais passou enquanto viveu. Morreu muito cristãmente.

Éramos três irmãs e nove irmãos. Por bondade de Deus, todos se pareceram com os pais, em ser virtuosos, menos eu, embora fosse a mais querida de meu pai. E, antes que eu começasse a ofender a Deus, parece que tinha alguma razão para isso, mas quando me recordo das boas inclinações que o Senhor me tinha dado, lastimo o mal que eu delas me soube aproveitar.

Eu dava esmola conforme podia; e podia pouco. Procurava solidão para rezar as minhas devoções que eram muitas, em especial o Rosário, do qual a minha mãe era muito devota e assim nos fazia sê-lo. Gostava muito, quando brincava, com outras crianças, de fazer mosteiros como se fôssemos freiras; e parece-me que desejava ser, embora não tanto como as outras coisas que já disse.

Recordo-me que, quando morreu minha mãe, fiquei da idade de doze anos, pouco menos. Quando comecei a perceber o que tinha perdido, fui, aflita, a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-Lhe, com muitas lágrimas, que fosse minha Mãe. Embora o fizesse com simplicidade, parece-me que me tem valido; porque conhecidamente tenho encontrado esta Virgem soberana, sempre que me tenho encomendado a Ela, e, enfim, fez-me Sua"

(Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida)
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sábado, 27 de março de 2010

Família: central para vida da sociedade, indica Papa

Ao receber os bispos dos países escandinavos em visita “ad Limina”

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 26 de março de 2010 (ZENIT.org).



- A família é fundamental para a vida de uma sociedade sadia, indicou Bento XVI ontem, ao receber no Vaticano os bispos dos países escandinavos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia) em visita ad Limina.
Recordando o enfraquecimento da instituição do matrimônio e da compreensão cristã da sexualidade humana, defendeu o direito das crianças de serem concebidas, “trazidas ao mundo e educadas dentro do matrimônio”.
“É através da relação segura e reconhecida dos seus próprios pais que elas podem descobrir sua identidade e alcançar seu próprio desenvolvimento humano”, afirmou, citando a instrução Donum Vitae.
Neste sentido, o Papa afirmou que, “em sociedades com a nobre tradição de defender os direitos de todos os seus membros, seria de esperar que a este direito dos filhos se desse prioridade, em relação a todo e qualquer alegado direito dos adultos a impor-lhes modelos alternativos de vida familiar e sem dúvida de qualquer suposto direito ao aborto”.
Abordando depois a questão da imigração, Bento XVI pediu que se garantisse a ajuda “a esses novos membros das vossas comunidades, para aprofundarem em seu conhecimento e compreensão da fé através de programas oportunos de catequese”.
Quanto à promoção das vocações, pediu que fosse feita “tanto entre os nativos quanto entre as populações imigrantes”, já que “do coração de qualquer comunidade católica sadia, o Senhor sempre chama homens e mulheres para servi-lo” na vida consagrada.
Em um âmbito mais geral, o Papa incentivou os bispos a transmitirem a mensagem social e ética da Igreja, elogiando as diversas iniciativas levadas a cabo neste sentido. E destacou o cuidado pastoral que deve ser prestado “aos casais nos quais apenas um dos cônjuges é católico”.
Constatando que a população católica do território é pequena em número e está estendida em uma ampla região, indicou que “é muito importante que percebam que, cada vez que se reúnem em torno do altar para o sacrifício eucarístico, estão participando de um ato da Igreja universal, em comunhão com os católicos do mundo inteiro”.
Destacando a importância da atividade ecumênica, animou os prelados a dedicarem suas energias à promoção de “uma nova evangelização”, priorizando “o incentivo e apoio aos vossos sacerdotes, que frequentemente têm de trabalhar isolados uns dos outros e em circunstâncias difíceis para administrar os sacramentos ao povo de Deus”.
Também pediu que comprovassem que os candidatos ao sacerdócio “estão bem preparados para esta tarefa sagrada”.
Finalmente, solicitou que garantissem “que os fiéis leigos valorizem o que seus sacerdotes fazem por eles e lhes ofereçam o ânimo e apoio espiritual, moral e material de que precisam”.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O papel da família no terceiro milenio


Em foco


O papel da família no terceiro milênio
Fala o cardeal Ouellet, arcebispo de Quebec e primado do Canadá

Por Carmen Elena Villa

ROMA, sexta-feira, 19 de março de 2010 (ZENIT.org). – A primeira década do século XXI tem sido marcada por uma “confusão de valores e uma perda de referências”, realidade que atingiu muitas famílias. Foi o que afirmou na última quarta-feira o cardeal Marc Ouellet, arcebispo de Quebec e primaz do Canadá.

O purpurado discursou sobre o tema “O papel da família no terceiro milênio”, no congresso “Oriente e ocidente: em diálogo sobre o amor e a família”, realizado nesta semana no Instituto João Paulo II para Estudos sobre a Família e o Matrimônio da Pontifícia Universidade Lateranense de Roma.

“A humanidade vive hoje uma crise sem precedentes”, afirmou o cardeal Quellet, sublinhando alguns aspectos como a crise dos recursos naturais, o colapso financeiro, o terrorismo internacional e o relativismo moral – fenômenos, segundo ele, ligados à crise da fé. “No último século, modificou-se a imagem que o homem tem de si mesmo”, afirmou.

A crise cria também uma “confusão alimentada por uma linguagem ambígua”. Por isso, observa o purpurado, a crise atual “não é tão somente uma crise moral ou espiritual, mas principalmente antropológica, pois questiona a própria humanidade”.

Magistério e família

O purpurado lembrou como o Concílio Vaticano II foi capaz de abordar os desafios que se vislumbrava às portas do terceiro milênio. Destacou também como a Constituição Pastoral Gaudium et Spes tratou da questão da família, que deve viver “segundo a graça da semelhança trinitária”.

Da mesma forma, enfatizou a importância da família como “igreja doméstica”, afirmando que esta deve ser “recolocada no coração da Igreja”.

“A união introduz a família na relação entre Cristo e a Igreja, inaugurando uma nova dinâmica. Os cônjuges devem estar empenhados em amarem-se com Deus e em Deus”, acrescentou o purpurado.

Nutrir-se de Deus para projetar-se no mundo

O cardeal Oullet destacou como a Exortação Apostólica Familiaris Consortio de João Paulo II, publicada em 1981, constitui fruto das reflexões conduzidas durante o Concílio Vaticano II sobre a vocação e o papel da família, em especial sobre a necessidade de aprofundar o tema do homem e da mulher como seres criados à imagem e semelhança de Deus.

Recordou ainda que a vocação da família é ser “igreja doméstica”, com base nas palavras de São João Crisóstomo, que dizia “Faz de tua casa uma Igreja”, enfatizando que “há ainda muito a se descobrir neste sentido”, visto que a família não é apenas “uma imagem da Igreja, mas também uma realidade eclesial”.

No matrimônio, acrescentou o purpurado, verifica-se “a unidade do ‘nós’ não de maneira simbólica, mas real”, e os esposos “se doam e recebem a Cristo também no cotidiano”, como resultado de um “carisma de unidade, fidelidade e fecundidade”.

“O amor é o caminho da perfeição humana em Cristo”, assinalou o cardeal, mostrando como o amor conjugal representa a união de Eros e ágape. “Um amor plenamente humano, sensível, espiritual, fiel, exclusivo até a morte, que não se exaure e que continua a suscitar novas vidas”.

Um amor que, à semelhança da Trindade, “comporta em si uma abertura ao Filho, e, de maneira ainda mais profunda: o Filho e o Espírito que se doam aos esposos como fruto do amor”, uma comunhão que envolve “não apenas uma abertura ao Espírito e ao Filho, mas também à sociedade”.

Deste modo, indicou o arcebispo de Quebec, a família “participa da missão salvadora da Igreja”, de modo que tantos os esposos quanto os filhos se tornam “Focolares da comunhão interpessoal habitada por Cristo e escola de liberdade”, e assim podem “responder à confusão de valores da cultura de morte, da cultura da posse e do efêmero”.

sábado, 6 de março de 2010

Como escolher uma esposa

Eis os trechos principais de uma homilia de São João Crisóstomo intitulada "Como escolher uma esposa", publicada na seleção On Marriage & Family Life (pág. 89-114). A tradução para o inglês é de Catherine P. Roth e David Anderson e a editora é a St. Vladimir´s Seminary Press (Crestwood, Nova York, 2003).

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1) Portanto, quando fordes escolher uma esposa, não examineis somente as leis do Estado, mas, antes, examineis as leis da Igreja. Deus não vos julgará no último dia segundo as leis do Estado, mas segundo Suas
leis.

2) Não é mesmo uma tolice? Quando estamos sob ameaça de perder dinheiro, tomamos todos os cuidados possíveis, mas quando nossa alma está sob risco de ser eternamente punida, nem ao menos prestamos atenção.

3) Tu sabes que tem duas escolhas. Se tu escolheres uma má esposa, terás de enfrentar aborrecimentos. Se não aceitares enfrentá-los, serás culpado de adultério por divorciar-te dela. Se tivesses investigado as leis do Senhor e as conhecesse bem antes de te casares, terias tomado muito cuidado e escolhido uma esposa decente e compatível com teu caráter desde o início . Se tivesses te casado com uma esposa assim, terias ganhado não apenas o benefício de não te divorciares dela como o benefício de amá-la intensamente, conforme Paulo ordenou. Pois quando ele diz Maridos, amem vossas esposas, ele não pára por aí, mas fornece a medida deste amor, como Cristo amou a Igreja.

4) Vejamos, porém, se a beleza e a virtude da alma da noiva atraiu o Noivo. Não, ela não era atraente nem pura, conforme estas palavras de Paulo: Ele se entregou por ela para a santificar, purificando-a com a lavagem da água (Efésios 5:25-26). [...] Apesar disso, Ele não abominou sua feiúra, mas neutralizou sua repulsividade, remoldando-a, reformando-a e remitindo seus pecados. Tu deves imitá-Lo. Mesmo que tua esposa peque contra ti mais vezes do que podes contar, tu deves perdoá-la em tudo.

5) Quando surge uma infecção em nossos corpos, não cortamos o membro fora, mas tentamos curar a doença. Devemos fazer o mesmo com uma esposa.

6) Mesmo que ela não apresente melhoras em função de nossos ensinamentos, assim mesmo receberemos uma grande recompensa de Deus pela nossa paciência e por termos mostrado tanto auto-domínio em temor
a Ele. Nós conseguimos suportar as maldades dela com nobreza, sem cortar o membro fora. Pois uma esposa é como se fosse um membro nosso, e por causa disso devemos amá-la. É precisamente isto que ensina Paulo: Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos...Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Cristo à Igreja; porque somos membros do Seu corpo, da Sua carne, e dos Seus ossos (Efésios 5:28-30).

7) Devemos amar nossa esposa também porque Deus estabeleceu uma lei a esse respeito quando disse: Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne (Gênesis 2:24; Efésios 5:31).

8) Assim como o noivo deixa a casa de seu pai e junta-se à noiva, assim também Cristo deixou o trono de Seu Pai e juntou-se à Sua noiva.

9) De maneira geral, a vida é composta de duas esferas de atividade: a pública e a privada. Quando Deus a diviviu assim, Ele designou a administração da vida doméstica à mulher, mas ao homem designou todas as tarefas relativas à cidade, às questões comerciais, judiciais, políticas, militares e assim por diante. [...] De fato, o que quer que o marido pense sobre questões domésticas, a esposa o saberá melhor que ele. Ela é incapaz de administrar as questões públicas competentemente, mas ela é capaz de cuidar bem dos filhos, que é o maior dos tesouros. [...] Se Deus tivesse dotado o homem para administrar ambas as esferas de atividade, teria sido fácil aos homens dispensar o gênero feminino. [...] Por isso Deus não concedeu ambas as esferas a um sexo, para que nenhum deles pareça supérfluo. Mas Deus não designou ambas as esferas igualmente a cada sexo, para que a igualdade de honra não engendre rixas e conflitos. Deus preservou a paz reservando a cada um sua esfera adequada. Ele dividiu nossas vidas em duas partes, e deu a mais necessária e importante ao homem e a parte menor e inferior à mulher. Assim, Ele organizou a vida de maneira a que admirássemos mais o homem do que a mulher, pois seus serviços são mais necessários do que os dela, e para que a mulher tivesse uma forma mais humilde e, assim, não se rebelasse contra o marido.

10) Assim sendo, eis o que tu deves buscar em uma esposa: virtude de alma e nobreza de caráter, para que desfrutes de tranquilidade, para que luxuries em harmonia e amor duradouro.

11) O homem que se casa com uma mulher rica se casa com um chefe, e não com uma esposa. Porém, o homem que se casa com uma esposa em iguais condições ou mais pobre se casa com uma ajudante e aliada,
trazendo inúmeras bênçãos para dentro de casa. Sua pobreza a força a cuidar de seu marido com muito cuidado, obedecendo-o em tudo. [...] Portanto, o dinheiro é inútil quando se trata de encontrar um parceiro
de boa alma.

12) Assim sendo, deixemos de lado as riquezas da esposa, mas examinenos seu caráter e sua piedade e recato. A esposa recatada, gentil e moderada, mesmo que seja pobre, irá transformar a pobreza em algo muito melhor do que a riqueza.

13) Antes de mais nada, tu deves aprender qual o propósito do casamento, e por que ele foi introduzido em nossas vidas. Não te perguntes mais nada. Qual seria, então, o objetivo do casamento, e por que Deus o criou? Ouve o que Paulo diz: Mas, por causa da tentação à imoralidade, cada um tenha a sua própria mulher (I Coríntios 7:2). [...] Portanto, não despreza o maior nem busca o menor. A riqueza é muitíssimo inferior ao recato. É somente por este motivo que devemos buscar uma esposa: para evitarmos o pecado, para nos libertarmos de toda imoralidade.

14) A beleza do corpo, se não estiver aliada à virtuda da alma, será capaz de atrair o marido somente por uns vinte ou trinta dias, mas não conseguirá ir além disto antes que a perversidade da esposa destrua toda sua atratividade. Quanto àquelas que irradiam beleza de alma, quanto mais o tempo passsa e sua nobreza se evidencia, tanto mais aquecido será o amor do marido e tanto mais ele sentirá afeição por ela.

15) É por meio do recato que o marido conseguirá atrair à sua família a boa vontade e a proteção de Deus. É assim que os homens de bem dos velhos tempos se casavam: buscando nobreza de alma em fez de riqueza monetária.

16) Quando te decidires por uma eposa, não corre atrás de ajuda humana. Volta-te a Deus, pois Ele não se envergonhará de ser vosso casamenteiro. Foi Ele mesmo quem prometeu: Buscai primeiro o Reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mateus 6:33). Não te perguntes: "Como posso ver a Deus? Afinal, Ele não falará nem conversará comigo de maneira explícita, e portanto não conseguirei Lhe fazer perguntas". Estas são palavras de uma alma de pouca fé. Deus pode facilmente organizar tudo da maneira que Ele quiser, sem o uso da voz.

17) A castidade é algo maravilhoso, mas é mais maravilhoso ainda quando está aliada à beleza física. As Escrituras nos falam sobre José e sua castidade, mas antes mencionam a beleza de seu corpo: José era formoso de porte, e de semblante (Gênesis 39:6). Em seguida, as Escrituras versam sobre sua castidade, deixando claro, assim, que a beleza não levou José a licenciosidade. Pois nem sempre a beleza causa imoralidade ou a feiúra causa recato. Muitas mulheres que resplandecem em beleza física resplandecem ainda mais em recato. Outras que são feias em aparência são ainda mais feias de alma, manchada por inúmeras imoralidades. Não é a natureza do corpo mas a inclinação da alma que produz recato ou imoralidade.