"Poderíamos aqui meditar sobre como seria saudável também para a nossa sociedade atual se num dia as famílias permanecessem juntas, tornassem o lar como casa e como realização da comunhão no repouso de Deus" (Papa Bento XVI, Citação do livro Jesus de Nazaré, Trad. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ, São Paulo: Ed. Planeta, 2007, p. 106)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

SERVOS DE DEUS LELIA E ULISSES AMENDOLAGINE - ocds

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Lelia Cossidente Amendolagine - Italia *1893 - 1951
Ulisse Amendolagine - Italia *1893 - + 1969

Servos de Deus da Ordem Carmelita Teresiana Secular, que santificaram-se em um matrimonio cristão autentico, testemunhando Jesus Cristo aos irmãos.

Em 18 de junho de 2004 iniciou-se o precesso de beatificação desse casal: Lelia e Ulisse Amendolagine, que santificaram-se através de uma vida matrimonial e familiar que serve de luz e exemplo a todo cristão.

Ela nasceu em Potenza, Itália em maio de 1893, ele em Salermo também na Itália em 14 de maio de 1893. Conheceram-se em 1929 e em 29 de setembro de 1930 uniram-se em matrimônio na paróquia de Santa Teresa , dos Carmelitas Descalços em Roma, onde atuaram a vida toda, ele na Ordem Terceira e ela na Confraria do Escapulário.

Ulisse, formado em Direito, trabalhou na Ministério do Interior Italiano, Lelia professora primária, renunciou a profissão para cuidar dos cinco filhos, desses um faleceu precocemente, dois consagraram-se a Deus. Conhecemos suas vidas, através das inúmeras cartas dos pais, sobretudo a José, que aos quinze anos, com o nome de Rafael, abraça o rigor da ordem carmelita descalça.

Por suas cartas, entramos no clima de uma família transformada em um lugar de continuo encontro com Deus, pela oração e pela vida, nas pequenas e perseverantes atitudes de fé, leituras, meditações, bênçãos cotidianas nos “altarzinhos preparados por mamãe, nas diversas festas religiosas” – escreve Frei Rafael, e prossegue: - “Passar diante de uma igreja em nossos passeios e entrar para uma oração, era coisa natural em nossa família, parecia que Jesus estava sempre ns esperando, em qualquer Igreja, para a nossa saudação. Entendíamos que no Sacrário circundado de luz e flores se escondia um Mistério que deveríamos adorar, Ele nos atraía, como deixa-Lo só?”.
O caminho de santidade percorrido pelo casal conhece alegrias e dores, como a separação dos filhos, o câncer que atinge Lelia e a faz sofrer grandes dores por dois longos anos. Das cartas desse período ficaram o testemunho admirável da aceitação da vontade de Deus, o fiel ato de agradecimento por cada melhora, a permanente ação de graças.

Lelia morre em 02 de julho de 1951, oferecendo sua vida pela santificação de seus filhos, Ulisse fiel companheiro na dor fica só, tomado pela dor da perda da esposa, mas vigorosamente forte na fé, vai se abandonando nos braços do Pai. Manda escrever na lápide do túmulo de Lelia, que também será o seu: “Ressucitaremos”, e repete sempre: “Tudo é movimento, nada está estagnado, nada é definitivo nesse mundo... depois da morte nos será dado o paraíso onde a alegria será completa”.

Lelia e Ulisse representam um grande exemplo de santidade. Um casal que transformou a vida matrimonial em um lugar de presença do amor de Deus que se doa através do trabalho, dos pequenos gestos, plenamente possíveis de serem vivenciados através da atenção e do afeto vividos dentro de casa.

Eles viveram a experiência do abandono em Deus que leva a plena doação ao irmão, ao ir de encontro com as necessidades da comunidade. A glória da Igreja resplandece agora ainda mais admiravelmente na união de dois corações enamorados em Jesus Cristo.

ORAÇÃO: Senhor Nosso Deus que unis o homem e a mulher pelos Sagrados laços do Matrimônio, para que sejam continuadores de sua obra, dai-nos, Vos pedimos, por intercessão dos vossos servos Lelia e Ulisses, que se santificaram nessa vida em um matrimônio cristão, a graça de vivermos a fidelidade em nossas famílias através do respeito e o do amor mútuo e a Graça particular que necessito. Amém
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sábado, 25 de abril de 2009

FAMILIA DE SANTA TERESINHA

O que teria uma família francesa do século passado, que usufruiu de excelentes condições econômico-financeiras, a ensinar às famílias cristãs de hoje? A família Martin, tronco do qual brotou Santa Teresinha, seria um modelo ultrapassado e suas virtudes impossíveis de serem vividas neste final de milênio?

Evidentemente, o mundo em que viveram os Martin era outro. A realidade sócio-cultural diferente da nossa e os princípios religiosos bem arraigados e inquestionáveis, poderiam nos levar a desistir de vê-los como modelo, numa época em que tudo se transforma e evolui velozmente. Em tudo carecemos de estabilidade e segurança. Não sabemos mais em que valores nos apegar. Contudo, há princípios familiares vividos pelos Martin que valem para todo o sempre. As famílias cristãs de hoje saberão valorizar e reconhecer como altamente necessária a admirável capacidade que os Martin tiveram de viver santamente na presença de Deus, enfrentando tantos problemas e desafios sem esmorecer, numa atitude de profunda fé no Senhor.

Os pais: Luís e Zélia

Todos os que conhecem a vida de Santa Teresinha sabem do amor extremado que a unia a seus pais. Órfã de mãe muito cedo, é natural que seu apego à figura paterna tenha se exacerbado. Louis Martin era o seu "Rei". Teresa era, sem dúvida, a filha predileta, a "Rainhazinha" do Sr. Martin.

Luís José Aloísio Estanislau Martin, o pai, nasceu em Bordeaux, França, aos 22 de agosto de 1823. Nesse dia, seu pai, militar, estava ausente, numa expedição na Espanha. Seus pais foram: Pedro Francisco Martin e Fanny Boureau. Devido ao trabalho do pai, Luís passou a infância em vários lugares: Avignon, Estrasbourg e, finalmente, Alençon, onde fixou residência a partir de 1830.

Calmo, piedoso, dado à contemplação, Luís desejou abraçar a vida monacal. Para tanto, visitou o Mosteiro do Monte São Bernardo, em 1843. Porque não conhecia o latim, não foi aceito à Ordem Cisterciense. Voltando a Alençon, abriu uma relojoaria, em 1850.

Zélia, mãe de nossa santa, chamava-se Azélia Maria Guérin. Nasceu aos 23 de dezembro de 1831, em Gandelain, França. Quando jovem, sonhou e chegou mesmo a ingressar na Ordem das Visitandinas, mas a Superiora logo descobriu que Zélia não era possuía vocação religiosa. Este sonho permanecerá em sua cabeça. Em 1844, mudou-se para Alençon, onde estudou com as Damas da Adoração e aprendeu a profissão de rendeira, especializando-se na famosa renda de Alençon. Começou a fabricar a renda para uma casa de Paris. Por volta de 1863 começou a trabalhar por conta própria, quando abriu uma pequena empresa.

Zélia Guérin e Luís Martin casaram-se em Alençon em 13 de julho de 1858. Pretendiam viver como irmãos. Convencidos por um confessor, decidiram ter filhos e os tiveram em número de nove: sete meninas e dois meninos. Zélia fez por eles a seguinte oração: " Senhor, dá-me muitos filhos, e que eles sejam todos consagrados a ti". A oração foi integralmente atendida.

Nada há de extraordinário na vida deste casal cristão. Vida simples, decididamente voltada para Deus que está no centro de tudo: missa diária, devoção ao Sagrado Coração de Jesus, participação em alguns movimentos da Igreja, solidariedade e caridade para com os menos afortunados.

Luís e Zélia amam-se muito. Durante uma viagem, ela escreve: "Estou ansiosa para estar perto de ti, meu querido Luís... Eu te amo de todo meu coração e ainda agora sinto redobrar minha afeição pela privação de tua presença". Eles se completam harmoniosamente, tomam juntos as decisões importantes referentes ao casamento e ao trabalho. São generosos com os pobres e os infelizes.

Ambos desejam ser santos e vivem com fidelidade suas obrigações de estado, exercendo seu trabalho e dando o melhor de si para a educação de seus filhos. Se se pensa em beatificá-los como casal é porque a heroicidade de suas virtudes foi reconhecida em ambos. O Papa João Paulo II já reconheceu oficialmente essa heroicidade.

Esta santidade foi particularmente manifestada através das provações. O casal Martin vive o abandono à Providência, principalmente quando a conjuntura econômica não favorecia os negócios. E, embora, no geral, tenham vivido em boa situação financeira, jamais se deixaram envaidecer por isso. Zélia, em uma de suas cartas, afirma que "a prosperidade constante afasta de Deus".

Eles experimentaram a provação de perderem dois filhos e duas filhas ainda criancinha. Zélia se angustiará com estes episódios, mas encontrará seu consolo na oração. Desde 1864, começará a sentir os sintomas do câncer de mama que a levará em 1877. Assumirá com coragem sua enfermidade e se dedicará aos filhos e ao trabalho até o fim. Ela fala em viver simplesmente o instante presente, que é onde Deus se revela, dando-nos uma lição de confiança: "Eu me resigno a todos os acontecimentos adversos que me vêm ou que me podem vir. Eu penso: foi Deus quem quis assim! E não penso mais nisso!". Dez dias antes de morrer ela escreve a seu irmão: "Que vocês querem, se a Santa Virgem não me cura... É que meu tempo chegou e o Bom Deus quer que eu repouse em outro lugar e não sobre a terra". Zélia morre com 46 anos em 28 de agosto de 1877. Teresa tem quatro anos e meio.

Após a morte de Zélia, Luís se muda para Lisieux, atendendo ao convite de seu cunhado Isidore Guérin, instalando-se com as cinco filhas na casa Buissonnets. Assiste feliz ao ingresso de todas as suas filhas na vida religiosa. Ele tem consciência de todas as graças que recebeu do Senhor. Um dia revela às filhas que costuma fazer a seguinte oração: "Senhor, é demais! Sim, sou muito feliz. Mas não é possível ir ao céu desta maneira. É preciso que eu sofra um pouco por vós". E ele se oferece. Pouco tempo depois ele experimenta a terrível humilhação da doença mental, conseqüência de uma arteriosclerose. É internado em Caen, no hospital Bom Salvador, onde se tratam os loucos. Grande provação para ele e para suas filhas. Teresinha, a respeito dessa enfermidade, escreverá: "Os três anos do martírio de meu pai pareceram-me os mais amáveis, os mais frutuosos de toda nossa vida. Eu não os trocaria por todos os êxtases e as revelações dos santos".

Se um dia Luís e Zélia Martin forem canonizados, não será porque foram pais de uma santa. Será porque eles foram cristãos normais, vivendo no mundo. Seu exemplo mostra que a santidade não é um ideal inacessível, mesmo para pessoas casadas, tendo obrigações e responsabilidade de família, engajadas em trabalhos comerciais, etc. Ao cumprir quotidianamente seu dever de estado, eles acolheram simplesmente a vontade de Deus para eles. Não há, nesta simplicidade, como que uma amostra grátis da "pequena via" descoberta por sua filha?

As irmãs Martin

Os filhos do casal Martin foram os seguintes:

Maria Luísa (22.2.1860-10.01.1940)
Maria Paulina (07.09.1861-28.07.1951)
Maria Leônia (03.06.1863-16.06.1941)
Maria Helena (13.10.1864-22.02.1870)
José Maria Luís (20.09.1866-14.02.1867)
José João Batista (19.12.1867-24.08.1868)
Maria Celina (28.04.1869-25.02.1959)
Maria Melânia Teresa (16.08.1870-08.10.1870)
Maria Francisca Teresa (02.01.1873-30.09.1897)

A última é nossa Santa. Maria Helena faleceu com 3 anos e Maria Melânia com poucos meses. Os dois meninos também se foram muito cedo.



Vamos conhecer um pouco sobre a vida das quatro irmãs de Santa Teresinha:

Maria Luísa, a futura carmelita Irmã Maria do Sagrado Coração, nasceu em Alençon, no dia 22 de fevereiro de 1860. Madrinha de Santa Teresinha. Segundo o testemunho de sua mãe, "é a mais bela de todas, mas eu a queria mais dócil". Aos 8 anos foi estudar no convento da visitação em Le Mans, junto à sua tia religiosa Visitandina, onde permaneceu até os 15 anos. Foi madrinha de batismo de nossa Santa. Dona Zélia a descreve como sendo de um caráter muito especial e voluntarioso". Após o falecimento de Zélia, foi escolhida por Celina como sua segunda mãe, enquanto assume a direção da casa paterna com Paulina. Com a entrada de Paulina no Carmelo, cuida mais maternalmente de Teresinha, sobretudo durante o período de seu esgotamento nervoso (1883), e a ajuda na sua crise de escrúpulos (1885-1886).

A despeito de seu temperamento independente e forte, possuía um coração sensível e generoso. Era desapegada das coisas do mundo e amava profundamente a Deus. Em 1882, encontrou-se com o Pe. Pichon, que se tornou seu diretor espiritual. Sob a orientação desse sacerdote ela descobre sua vocação carmelita e ingressa no Carmelo de Lisieux no dia 15 de outubro de 1886. Sua profissão ocorreu aos 22 de maio de 1888. Foi companheira de Teresinha no noviciado (1888-1891).

Muito ligada à sua santa irmã e afilhada, foi capaz de antever a sua santidade. Sugeriu à Madre Inês de Jesus que ordenasse Teresa a escrever suas lembranças de infância, o que resultou na preciosidade espiritual que é "História de uma Alma".

Irmã Maria do Sagrado Coração participou nos trabalhos para a canonização de sua santa irmã. No entanto, por causa de seu temperamento e de sua maneira de viver, ficou mais escondida, não tendo aparecido com a importância de Madre Inês e a Irmã Genoveva.

Aos 15 de outubro de 1938, o Carmelo festejou seu jubileu de ouro de vida religiosa. Ela, que não gostava de festas nem de honras, não esteve presente às solenidades. Durante anos, até à morte, sofreu de reumatismo articular. Em outubro de 1939, ela escreveu: "Que fiz no Carmelo? Nada. Faz tempo que o Bom Deus nos tem dado um trabalho mais lucrativo: o que faço na minha velhice e que consiste somente em sofrer um pouco para salvar as almas".

Morreu nas primeiras horas da manhã do dia 19 de janeiro de 1940. Sua última frase inteligível foi: "Eu vos amo".

Maria Paulina, a futura carmelita Madre Inês de Jesus, foi a segunda filha do casal Martin. Nasceu em Alençon, aos 7 de setembro de 1861. Estudou no pensionato da Visitação, em Le Mans, de 1868 a 1877. Era a filha querida de sua mãe, que a tinha como confidente. As cartas entre a Sra. Zélia e Paulina testemunham um relacionamento amoroso entre uma mãe dedicada e uma filha reconhecida. A mãe, sempre muito entusiasmada com essa segunda filha, quis que ela fosse uma santa. Sobre sua aparência física, escreveu: "... ela não é linda, mas eu a acho bela e muito bela, era exatamente assim que eu a queria".

Fez sua primeira comunhão no dia 2 de julho de 1872. Desde pequena, sentiu-se atraída à vida religiosa. Chegou a pensar em ingressar no convento da Visitação, em Le Mans, mas no dia 16 de fevereiro de 1882, durante a missa das 6 horas, na igreja de São Tiago, em Lisieux, aconteceu algo sobrenatural: "O Bom Deus me mostrou claramente que não era na Visitação que ele me queria, mas no Carmelo". No mesmo dia, ela comunicou sua decisão ao pai e a Maria. No dia 2 de outubro de 1882, entrava no Carmelo com o nome de Irmã Inês de Jesus. Professou aos 8 de maio de 1884, dia da primeira comunhão de sua santa irmã.

No Carmelo, exerceu várias funções. Foi priora por três vezes: de 20 de fevereiro de 1893 até 21 de março de 1896; de 1902 até 1908 e, de 11 de novembro de 1909 até sua morte em 1923, exerceu esse cargo, confirmada pelo papa Pio XI.

Após a morte da Sra. Martin, Teresa a escolheu como sua segunda mãe. Foi a primeira professora de Teresa nos Buissonets, sua educadora e formadora. Nossa santa ficou muito sentida com sua partida para o Carmelo.

Mais tarde, já no Carmelo, foi priora de Santa Teresinha e lhe ordenou, a pedido de Irmã Maria do Sagrado Coração, que escrevesse suas lembranças de infância. Transcreveu, com muito cuidado, muitas das palavras de Teresinha de abril até 30 de setembro de 1897, dia em que a santa faleceu.

Após a morte de Santa Teresinha, conseguiu a publicação de "História de uma Alma", um dos instrumentos que levou nossa santa a ser conhecida e amada no mundo inteiro, apesar de todas as correções, mudanças e eliminações feitas por ela nos textos originais.

Segundo o testemunho da própria Teresinha, Madre Inês foi umas das figuras preponderantes na sua formação espiritual. Os escritos teresianos estão repletos de referências a Paulina ou à Mãezinha, que a Santa amava com profundo e sincero carinho.

Madre Inês depôs nos processos de canonização de sua santa irmã. Nos últimos dezoito meses de sua vida, sofreu muito os achaques da velhice. Faleceu aos 28 de setembro de 1951, após pedir a proteção e a presença de sua amada Teresinha.

Maria Leônia, a religiosa visitandina Irmã Francisca Teresa, foi a terceira filha do casal Martin. Nasceu aos 3 de junho de 1863, em Alençon. Tida por todos como de caráter difícil e de temperamento delicado, causou muitos cuidados à sua família. Quando pequena, sua mãe reclamava porque ela não se desenvolvia bem. Dona Zélia, de forma contundente, afirma em uma de suas cartas: "Leônia nos tem provocado uma vida terrível o dia todo".

No pensionato da Visitação, em Le Mans, não obteve êxito. Sua mãe, no entanto, esperava um milagre que levasse Leônia a uma mudança: "Só tenho fé em um milagre para mudar essa natureza".

Leônia era a madrinha de crisma de Teresinha. E a Santa, que tanto amava sua irmã, antes de morrer prometeu realizar o milagre esperado: "Não é necessário preocupar-se com os insucessos de Leônia com suas entradas na vida religiosa. Após a minha morte, ela terá sucesso e terá meu nome e o de São Francisco de Sales".

Fez três tentativas de ingresso na vida religiosa. A primeira, entre as Clarissas de Alençon, em outubro de 1866; a segunda entre as Visitandinas de Caen, de 7 de julho de 1887 a 6 de janeiro de 1888; a terceira novamente entre as Visitandinas de Caen, aos 24 de março de 1893, quando recebeu o nome de Irmã Maria Dositéia e de onde saiu em 1895.

Regressando ao mundo, viveu quatro anos com os Guérin, de 1895 a 1899. Aos 28 de janeiro de 1899, após, portanto, a morte de sua santa irmã, ela ingressou definitivamente nas Visitandinas de Caen, tomando o nome de Irmã Francisca Teresa, tendo professado aos 2 de julho de 1900. Teresa a tratava com muito carinho.

A vida e as virtudes de Irmã Francisca Teresa, sobretudo na última etapa de sua vida religiosa, revelam-se, principalmente, na humildade, na pobreza e no silêncio. Ela é o exemplo típico do produto de uma grande correspondência à graça divina. Na verdade, na sua quarta tentativa de vida religiosa, ela foi de tal modo se transformando que se tornou para todos um modelo de virtudes.

No dia 12 de junho de 1941, caiu fulminada aos pés de sua cama por uma congestão cerebral. Durante cinco dias, ficou imóvel e muda, sustentando sempre o crucifixo de Santa Teresinha. Faleceu na noite de 16 para 17, ladeada pelas irmãs veleiras, enviadas por Madre Inês de Jesus. Dada a notícia de sua morte, o próprio papa Pio XII celebrou missa em sua intenção.

Durante muitos dias, a multidão procurou prestar-lhe a última homenagem, mas também tocar seus objetos de devoção no seu caixão. Muitos peregrinos, sobretudo pais com problemas com os filhos, vêm visitar o lugar onde ela está sepultada e lhe pedir ajuda, uma vez que ela de filha difícil passou, com seu esforço e a graça de Deus, a ser uma religiosa amável e santa. São muitas as cartas que chegam à Visitação, em Le Mans, agradecendo favores recebidos por sua intercessão.

Maria Celina, a futura carmelita Irmã Genoveva da Santa Face, penúltima filha de Luís e Zélia Martin, nasceu em Alençon, aos 28 de abril de 1869. Sua mãe a descreve, quando pequena, como inteligente, viva, a alegria da casa. Fez seus estudos no pensionato da abadia beneditina de Lisieux, entre 1878 e 1885. Fez aí sua primeira comunhão, no dia 13 de maio de 1889.

Com a morte da mãe, Celina ficou aos cuidados de Maria, enquanto que Teresinha escolheu Paulina como sua segunda mãe. A partir de então, com o progressivo crescimento físico e espiritual, Celina e Teresinha se tornaram muito mais unidas do que eram antes.

Com dotes para a pintura, ela se especializou nesta arte. Tanto progrediu que o Sr. Martin quis enviá-la a estudar em Paris. Celina recusou, temendo os perigos da cidade grande.

Quando Teresinha entrou no Carmelo, Celina foi pedida em casamento e tal fato lançou-a numa grande inquietude espiritual. Teresinha participou ativamente desta luta porque sonhava com a entrada de Celina no Carmelo.

Com a entrada de suas irmãs no mosteiro, ela ficou responsável pelo Sr. Martin, idoso e doente. Ela o acompanhou em Caen, Lisieux, La Musse de 1889 até 1894. Tornou-se a guarda fiel do Sr. Martin e não o deixou senão após sua partida para o céu.

Pessoa muito ativa, com um temperamento irrequieto, teve de passar por crises violentas. Um dos motivos dessas crises foi a vida que teve de freqüentar com os Guérin, que era muito cristã mas viveu, durante algum tempo, uma vida social muito intensa. Entre estudos de literatura e de ciências e seus trabalhos de pintura , Celina consumia seus dias antes de sua entrada no Carmelo.

Quando o pai faleceu aos 29 de julho de 1894, Celina ficou livre para realizar seu sonho. Superadas as últimas dificuldades, inclusive o convite de seu diretor espiritual, o Pe. Pichon, para que ela se tornasse a fundadora de uma Congregação religiosa no Canadá, Celina entrou no Carmelo de Lisieux aos 14 de setembro de 1894.

Foi noviça de Santa Teresinha e, como tal, deixou-nos uma preciosa documentação a respeito dos ensinamentos teresianos. Com Santa Teresinha, no dia 11 de junho de 1895, fez o ato de oferecimento ao Amor Misericordioso.

No Carmelo, foi importante seu papel de fotógrafa. Devemo-lhe muitas fotos de grande valor, não somente da santa, mas também da comunidade de seu tempo. A maior obra de Celina, durante a vida de Santa Teresinha, foi, sem dúvida, o quadro da Sagrada Face que pintou e fez Pio X exclamar, ao vê-lo: "Como é bonito"!

Por um gesto bondoso de Madre Gonzaga, Celina foi a enfermeira de Santa Teresinha nos últimos tempos de sua vida. Irmã Genoveva teve o cuidado de anotar muitos fatos interessantes e ditos importantes de nossa santa.

É considerada a mensageira do "Pequeno Caminho". Por seus depoimentos, escritos, fotografias e iconografias, difundiu esta dimensão fundamental da espiritualidade teresiana. Sua própria vida foi um exemplo típico da vivência do "Pequeno Caminho". A virtude que mais reluziu na forte e valente Celina foi a humildade.

Seus últimos dias foram comoventes e edificantes. Sua última palavra foi: "Jesus". Era o dia 25 de fevereiro de 1959, quando Irmã Genoveva partiu para a eternidade. Morreu com 89 anos e dez meses. Os funerais, soleníssimos, ocorreram no dia seguinte.

Fonte:

Os dados biográficos das irmãs de Santa Teresinha foram copiados ou resumidos do magnífico "Dicionário de Santa Teresinha", de autoria do Dr. Cônego Pedro Teixeira Cavalcante, publicado pela Editora Paulus, livro que recomendamos a todos!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A Família de Santa Teresa

          Toledo, centro comercial de incomparável beleza, tinha a fama e a virtude de embelezar a pele e de transluzir os rostos lavados com a água do rio. Era também celebrada a formosura de suas mulheres juntamente com a castidade e honestidade. Não menos era admirável a sua religiosidade.

Teresa descendia de um avô Judeu (Juan Sanches), reconciliado em Toledo por volta do ano 1485, rico mercador, administrador de bispados, provavelmente odiado pelos “cristãos velhos” assim eram chamados os cristãos que não tinham nenhuma ascendência judaica, e os “cristãos novos” eram os Judeus que recebiam o Baptismo cristão.

Assim conhecido e desprezado em Toledo, Juan Sanches com seus filhos, dentre eles o pai de Santa Teresa, Alonso de Cepeda, nascido em 1480, se traslada para Ávila. Seus filhos posteriormente, compraram o direito de fidalguia e casando com mulheres fidalgas conseguiram penetrar o sector desta baixa nobreza isenta de certos impostos, porém obrigados a viver sem trabalhar e de renda, para que pudessem dissimular seu verdadeiro estado. De fato, Don Alonso viverá sem ofício conhecido, dilapidará os dotes de suas duas mulheres — ficando viúvo, casou-se pela segunda vez, com D. Beatriz— e morrerá arruinado em 24 de dezembro de 1543.

Era o tributo trágico que deviam pagar aqueles castelhanos judeus, ansiosos por se integrarem numa sociedade racista com os de sua casta.

De seus 11 irmãos, santa Teresa foi “a mais querida.” Seus pais virtuosos e tementes a Deus, educaram na piedade e nos afazeres da casa.

Educada com esmero, ouvia nas longas noites de inverno, ao calor da lareira, a leitura da vida dos santos mártires, feita por seus pais. Animada por essas leituras, aos 7 anos Teresa sente a necessidade de fugir para a terra dos mouros com seu irmão Rodrigo, na esperança de poder alcançar o céu rapidamente, através do martírio. Fuga frustrada, pois um tio os encontra na saída da cidade e os conduz novamente ao lar paterno.

Mas o ideal da fuga – “QUERO VER A DEUS” — torna-se o seu HORIZONTE DE VIDA!

Na idade de 13 anos, Teresa perde sua jovem mãe, Dona Beatriz e a experiência prematura da orfandade leva-a aos pés da Virgem, a quem pede que seja sua Mãe.

Aos 16 anos o seu fervor religioso arrefeceu, entregando-se às vaidades próprias da idade juvenil. Seu pai a coloca como interna um ano e meio no Mosteiro das Irmãs Agostinianas. No relacionamento com uma santa religiosa, suas inquietações espirituais voltaram a manifestar-se e infundiu-lhe pensamentos e desejos de consagrar a Deus.

         Por motivos religiosos, após cumprir penitência, imposta pela Inquisição, muda-se com sua família para Ávila. Dela são conhecidos os nomes de Alvaro, Pedro, Elvira, Lorenzo e Francisco, Hernando morava em Salamanca e Alvaro que ficou em Toledo. Estes toledanos eram considerados como “filhos de bons fidalgos e parentes de bons cavaleiros”.

         O pai de Teresa chamado Alonso Sánchez, antes conhecido Pyna, teve dois filhos do casamento com Catalina del Peso y Henao, falecida em 1507, e que eram Maria de Cepeda (1506) e Juan Vásquez de Cepeda (1507). Após a morte da primeira mulher casou-se com Beatriz de Ahumada, mulher singular, quinze anos mais moça e prima terceira da falecida, com quem teve os filhos: Hernando de Ahumada (1510), Rodrigo de Cepeda (1513), Teresa de Ahumada, na madrugada primaveril de 28 de março de 1515, quinta-feira Santa, Lourenzo de Cepeda (1519), Antonio de Ahumada (1521), Jerônimo de Cepeda (1522), Agustin de Ahumada (1527) e Juana de Ahumada (1528). Dona Beatriz morreu em 1543.

Teresa desde o berço contemplou o belo à sua volta e também desde muito cedo começou a experimentar o fascínio da palavra poética. Palavra que conheceu, antes de mais nada, por meio de seus pais, cristãos fervorosos, que lhe fizeram familiar a dos salmos, dos cânticos, das parábolas evangélicas. As Escrituras Sagradas, as divinae litterae, foram, pois, a porta pela qual Teresa entrou no mundo da literatura.

Mas a Espanha renascentista do início do século XVI cultivava também com entusiasmo as humanae litterae. E o interesse de Teresa pela leitura foi despertado em sua própria família. O exemplo lhe vinha, em primeiro lugar, de seu pai, leitor apaixonado, que mantinha em casa uma rica biblioteca, onde ao lado das obras latinas não faltavam as obras em castelhano, em romance, para que todos pudessem lê-las. É Teresa mesma, em sua autobiografia, quem recorda a figura do pai entre os livros que guardava para os filhos: “Era mi padre aficionado a leer buenos libros y ansí los tenía de romance para que leyesen sus hijos” (Libro de la Vida, 1,1) [1] .

Não era só o pai de Santa Teresa que gostava de ler. Sua mãe tinha também o hábito da leitura. O que mais a entretinha eram obras que uniam história e fantasia, as novelas de cavalaria, tão populares nesse período e mais tarde imortalizadas por Cervantes. Foi assim que Teresa descobriu o mundo da literatura de ficção, e passou a se empolgar com as aventuras de guerreiros cristãos e mouros por suas terras e por terras estranhas. Mais uma vez, é ela própria quem nos conta isso, em sua autobiografia: “Era aficionada a libros de cavallerías [...] Yo comencé a quedarme en costumbre de leerlos [...] Era tan estremo lo que esto me embevía que, si no tenía libro nuevo, no me parece tenía contento" (Libro de la Vida, 2,1). Aliás, Teresa não se limitava a ler: teve a idéia de ser autora de uma novela de cavalaria. Chegou a começá-la, com a ajuda de seu irmão. Mas tudo não passou de uma brincadeira de criança, que não foi adiante.

De qualquer forma, com as leituras feitas na biblioteca de casa, e com outras feitas mais tarde, Teresa foi adquirindo noções da arte de escrever, da retórica de seu tempo. Por outro lado, a proibição oficial de certos tratados religiosos parece ter tido, paradoxalmente, um feliz efeito literário: o de obrigar mais tarde Teresa a não se prender a essas lições, a buscar em si mesma formas mais livres de expressão de sua vida espiritual. Enfim, graças ao exemplo do pai, Teresa foi aprendendo também que, na expressão literária, como em outros aspectos da vida, homens e mulheres devem as mesmas oportunidades fundamentais. Foi aprendendo ainda que se ela própria, suas irmãs e sua mãe podiam ser tão boas leitoras quanto seu pai e seus irmãos, nada impediria que fossem também tão boas escritoras quanto os homens. Mais ainda: ninguém melhor que a mulher para se fazer entender de um público de leitoras. Diz Teresa: “mijor se entienden el lenguaje unas mujeres de otras” (Moradas, prólogo, 5).


continua.....................

 

quarta-feira, 22 de abril de 2009

ORAÇÃO PARA FORTALECER A UNIÃO DO CASAL

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“Senhor, fazei com que compartilhemos a vida como verdadeiro casal, esposo e esposa; que saibamos dar um ao outro o que temos de melhor em nós, no corpo e no espírito; que nos aceitemos e nos amemos como somos, com as riquezas e limitações que temos.
Cresçamos juntos, sendo caminho um para o outro; saibamos carregar o fardo um do outro, encorajando-nos a crescer sempre no mútuo amor. Sejamos tudo um para o outro: nossos melhores pensamentos, nossas melhores acções, nosso melhor tempo e nossas melhores atenções. Encontremos um no outro a melhor companhia. Senhor, o amor que vivemos seja a grande experiência do Vosso amor. Cresça, Senhor, em nós, a mútua admiração e atração, a ponto de nos tornarmos um só: no pensar, no agir e no conviver. Para que isto aconteça, estejais Vós entre nós. Seremos então, eternos enamorados. Amem.”

(Autoria desconhecida)

MATURIDADE HUMANA EM LUIS E ZELIA MARTIN

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Lucienne Marie J. Delasquis Perez[i]

No ofício das leituras do dia 17 de outubro, Santo Ignácio de Antioquia numa carta aos romanos disse: "Deixai-me contemplar a luz pura; quando lá chegar, serei homem". Interessante. Santo Ignácio nos da a entender que para ser "homem" plenamente é necessário se aproximar de Deus.
Hoje, para chegarmos a um entendimento mútuo sobre o que pode vir a significar "formação humana" ou "maturidade humana", sugiro que nos firmemos em São João. Ele nos dá dois pontos de apoio seguros mostrando onde colocarmos nossos pés. O primeiro é a verdade: "santifique-os na verdade" diz Jesus antes da paixão. O segundo, dado na sua primeira epístola, é o principio: quem permanece no que tem ouvido desde o principio, então permanece em Deus.
A verdade é como a linha usada pelo pedreiro. Linha essa que o guia na construção. Se ele se afasta desta linha, no mínimo a parede será torta até com perigo de cair. A verdade atravessa a história da humanidade como um todo e atravessa a vida de cada um de nos em particular. Nós tecemos a nossa vida ao redor dela. Às vezes para cima, às vezes para baixo e às vezes acertamos a conformidade com ela. A distância entre o ponto onde estamos e a verdade se chama ansiedade, angústia, escrúpulos, hipocrisia de toda espécie e, se nos remetermos ao pensamento de Santo Ignácio, poderíamos dizer tudo aquilo que é desumano. Frei Pierino na sua mensagem no Monte Carmelo de outubro disse que a verdade não é apenas um conceito, mas sim, uma pessoa. A verdade até se faz homem para nos mostrar melhor o que vem a ser o humano.
No principio, nos diz a Bíblia, Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, e viu que isso era muito bom. E o homem deixa seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher, e já não são mais que uma só carne. Isto é a verdade, o início do homem e da mulher incluso dentro dessa mesma verdade, que é pessoa.
Em um determinado ponto da história da humanidade surgem Luis Martin e Zélia Guerin, que, esta mesma verdade chamará a formarem uma unidade só: Luis e Zélia Martin, como Deus o quis desde o principio।

LUIS E ZÉLIA MARTIN – Uma contínua formação humana

Os autores interessados na família Martin, como Henri e Alice Quantin, não hesitam em afirmar que a vida dos pais de Santa Teresinha do Menino Jesus é muito mal conhecida. Foram unidos por um amor profundo, apaixonados pela educação de suas cinco filhas e transtornados pela morte de outros quatro. A existência deles é um testemunho de uma esperança alegre e inquebrantável. Por isso, Teresinha dirá: "O bom Deus deu-me um pai e uma mãe mais dignos do Céu do que da terra". Aqui também se seguisse o pensamento de Santo Ignácio, ela poderia ter dito: verdadeiramente humanos.
Zélia e Luis Martin progrediram na santidade atravessando etapas que os casais modernos encontram: casaram-se tarde, formaram um lar onde a mulher trabalhava fora de casa e os dois preocuparam-se com o êxito de seus negócios, foram solícitos na educação de suas filhas e foram acometidos por doenças contemporâneas: o câncer para Zélia, e uma doença neuropsiquiátrica para Luis. O mesmo casal Henri e Alice Quantin nos diz que se Santa Teresinha do Menino Jesus rapidamente alcançou a Cristo pelo elevador do amor, os seus pais caminharam mais lentamente, com esforço, subindo a escada de serviço.
O Carmelita Calçado, Frei J. Linus Ryan, na sua Breve Bibliografia de Zélia Martin, pergunta: "Quem era esta mulher capaz de causar impressões tão profundas e duradouras numa criança de quatro anos e meio?" De fato, tanto Teresinha como Celina, se lembraram de sua mãe de maneira clara e viva durante toda a vida.
Era uma mulher de contradição. O que sobressai de imediato é sua fé firme e forte, uma energia incrível e grande capacidade para trabalhar. Por um lado, ela mantinha no fundo de sua alma certa atração pelo convento onde achava ser o seu lugar, por outro lado amava seu esposo e seus filhos e se dedicou totalmente ao seu papel de esposa e mãe. Era uma mulher entusiasmada pela vida. Mais uma vez encontramos nela aquele direcionamento firme para o Céu e, contudo, era uma hábil rendeira e grande mulher de negócio. As suas cartas jogam uma luz sobre a sua personalidade viva e cheia de humor. Tinha uma percepção aguçada e ao mesmo tempo crítica da sociedade onde vivia. Ela própria se julgava impaciente, contudo, era simpática. Seu caráter foi formado pelo sofrimento que soube aproveitar para amadurecer no amor. E podemos dizer, aí esta o segredo da formação humana, porque não existe amadurecimento humano sem ter amadurecimento no amor. E isso não faltava a Zélia.
Louis Martin, por sua vez, era um homem de alma contemplativa, calmo, piedoso, pacificador e particularmente muito caridoso. De fé robusta e como conseqüência de sua vida interior sempre unido a Deus, era um homem sem medo. Conta-se que ate malandros brigando com faca separou. Era disciplinado e tinha princípios sólidos dos quais não se desviava. Um exemplo disso é a sua recusa de fazer negócio no domingo, mesmo que isso significasse a perda de clientes. Era 6timo negociador e tinha talento para o desenho 0 que se tornou muito importante na sua contribuição para o desenvolvimento do negócio da Zélia. Como lazer gostava de pescar, de viajar e apreciava jogar bilhar. Era um autodidata e adquiriu uma boa cultura. Gostava de obras literárias. E, como seu pai era militar, ficou em Estrasburgo um tempo, se tornou bilíngüe, conhecendo o alemão além do francês.
Zélia e Luis sempre viveram bem juntos. Eles se completaram harmoniosamente, tomavam juntos as decisões importantes referentes ao casamento, à família, ao trabalho. Foram generosos com os pobres e os infelizes.
Souberam aproveitar suas qualidades naturais para se formarem humanamente. Isso querendo dizer, logicamente, que se ajudaram um ao outro a se aproximar cada vez mais da verdade. Logo depois do casamento e de comum acordo, viveram numa perfeita abstinência sexual durante uns nove a dez meses. Pensavam eles que o casamento era inferior à vida religiosa, e por isso trouxeram para dentro do casamento as vocações que pensavam ter à vida religiosa. Mas isso não está de acordo com a verdade. Deus não os tinha chamado para o casamento para viverem como monges. Foi o confessor da Zélia quem os recolocou na verdade. Assim, completou-se a consumação do casamento. Com certeza, este acontecimento foi fruto de diálogo feito dentro de uma visão de fé compartilhada. Grande contribuição para o desenvolvimento de um amor e de uma confiança um pelo outro cada vez mais profundo.
Pouco a pouco se formou entre eles aquela unidade que Deus havia previsto e desejado desde o principio. Encontramos isso numa troca de correspondência por ocasião de uma viagem da Zélia a Lisieux. Escrevia ela: "Quanto me tarda ver-me junto de ti, meu querido Luis! Amo-te de todo o meu coração e sinto que o meu afeto redobra com a privação da tua presença que tanto sinto; ser-me-ia impossível viver apartada de ti." Em outra ocasião dirá: "S6 contigo e que estou bem, meu querido Luis".
Zélia e Luis souberam formar uma família unida porque eram unidos. Come9avam o dia juntos, acordando as 5:30 da manha para participar da missa e comungar com a freqüência permitida na época. E depois ambos se dedicavam aos seus respectivos trabalhos. Para Zélia era o seu negócio de renda, para Luis a sua relojoaria. O Sr. Luis sempre ajudou a Zélia, mas em 1871 achou melhor vender a sua relojoaria e joalheria e se dedicar inteiramente ao negócio de renda. A parte da manufatura ficou nas mãos de Zélia, a parte comercial e financeira, nas mãos de Luis. Como ele também era artista, se encarregava da cria9ao de novos modelos.
Tanto Zélia como Luis eram empreendedores. Sabiam investir e seguiam os jornais econômicos. Isso não impedia em nada de cuidar da educa9ao das suas filhas, elas recebiam da parte de seus pais toda a aten9ao que precisavam. Encontra-se na ampla correspondência de Zélia com suas filhas mais velhas, estudando em colégio interno, os mínimos detalhes da vida familiar, do interesse que tem em cada uma de suas filhas. As menores sempre foram as suas delicias.
Zélia era uma mulher de energia e abnegação. Mesmo doente, não temia enfrentar nova gravidez. Cada filho que nasceu lhe dava nova alegria. Mas a inflama9ao do seio que ha muito sofria, tornou se tumor. A notícia deste fato foi um golpe terrível para o Sr. Martin, que, de repente, via que ele teria que seguir seu caminho sozinho. O abatimento o invadiu por um tempo, mas devagarzinho soube aceitar a vontade de Deus. Como qualquer outro ser humano, contudo, desejaram e procuraram a cura. O Sr. Martin sugeriu que Zélia fosse ate Lourdes procurar um milagre de Nossa Senhora. Mas, o milagre não veio. Pelo contrario, Zélia caiu, deu um mau jeito no pesc090 que ira aumentar o seu sofrimento. Mas Zélia não se deixou abater por causa disso. Ela pensou que Nossa Senhora estava lhe dizendo como a Bernadette: "Não prometo te fazer feliz neste mundo, mas no outro".
Durante a doença da Sra. Zélia, uma atitude profundamente humana sobressai no Sr. Martin. Ele soube respeitar a sua esposa, embora ele mesmo pensasse diferente. A Sra. Martin quis continuar indo à missa ate pouco antes de sua morte. Diz Maria que às vezes não tinha a mínima condi9ao, mas o Sr. Martin a apoiava nele e iam andando ate a Igreja com muita dificuldade. Enfrentava a critica dos vizinhos e conhecidos para que sua esposa pudesse satisfazer este desejo de participar do sacrifício de Cristo ate o fim.
O Sr. Luis continuara dando as suas filhas a dedicação paternal. Não recusara a Deus os sacrifícios que lhe pediu. Um desses foi a entrada de Maria no Carmelo. Ele dirá: "O Senhor não podia me pedir maior sacrifício", pois a Maria era a sua filha predileta. Disp6s-se a sofrer ainda algo pelo Senhor rezando da seguinte forma: "Senhor, e demais! Sim, sou muito feliz. Mas não e possível ir ao céu desta maneira. E precise que eu sofra um pouco por v6s". E ele se oferece. Pouco tempo depois ele experimenta a terrível humilhação da doen9a mental, conseqüência de uma arteriosclerose. E internado em Caen, no hospital Bom Salvador, onde se tratam os loucos. Grande provação para ele e para suas filhas. Teresinha, a respeito dessa enfermidade, escrevera: "Os três anos do martírio de meu pai pareceram-me os mais amáveis, os mais frutuosos de toda nossa vida. Eu não os trocaria por todos os êxtases e as revela90es dos santos". Visão de quem esta muito pr6ximo da verdade.
O sofrimento pode endurecer o coração e o tornar desumano. Para os Martins foi motivo de desenvolvimento humano por causa do abandono total a vontade de Deus, por causa do amor, da alegria que tinham amadurecido, por causa daquela esperan9a inquebrantável. Caminhando o mais perto possível da verdade, se tornaram pessoas com muita maturidade humana.

Bibliografia:
História de uma família - do PE. Stefan Joseph PT, um
A Short Lei of. Venerable Zelie Martin Mother of St. Therese - de J. Linus Ryan, O. C. A Short Life of Venerable Louis Martin Father of St. Therese - de J. Linus Ryan, O. C. Zelie et Louis Martin - Les saints de I'escalier - de Henri e Alice Quantin


[i] Lucienne Marie J. Delasquis Perez, mestre de formação da Comunidade N. Sra. do Carmo de Paulínia.

(Palestra proferida no XXIII Congresso Provincial OCDS - IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS - "O amor nos identifica com Aquele que amamos" - São Roque - 2 a 5.11.2006)